Nigéria abaixo de zero com equipa feminina de bobsleigh
Equipa feminina nigeriana apura-se para os Jogos Olímpicos de Inverno, replicando façanha jamaicana de 1988
É quase um remake do mais surpreendente episódio da história dos Jogos Olímpicos de Inverno – onde só mudam o continente e o sexo das protagonistas. Trinta anos depois da incrível façanha de um grupo de rapazes jamaicanos, imortalizada no filme Jamaica Abaixo de Zero, foi a vez de uma equipa feminina nigeriana de bobsleigh garantir o apuramento para a próxima edição da competição, Pyeongchang 2018.
Da galeria de protagonistas improváveis dos Jogos Olímpicos de Inverno, os mais célebres são os cinco jamaicanos que competiram no bobsleigh em Calgary 1988 (ofuscando até a inédita e irrepetida presença portuguesa na mesma prova). Essa história – de quem, num país sem tradição nos desportos de inverno, decide aventurar-se na difícil arte de descer uma estreita pista de gelo num trenó a alta velocidade – ganha agora um novo capítulo.
Podia chamar-se Nigéria abaixo de zero – à imagem da fita, de 1993, que conta a epopeia jamaicana até Calgary. As estrelas, desta vez, são Seun Adigun, Ngozi Onwumere e Akuoma Omeog, que após fazerem carreira no atletismo (Adigun chegou a ser campeã africana de 100m barreiras e esteve nos Jogos Olímpicos de verão de 2012), se dedicaram, em 2015, a algo bem diferente.
A caminhada não foi fácil.Vindas “de um continente onde ninguém se imagina a deslizar no gelo a 140 km/h”, como diz Seun Adigun, as atletas nigerianas tiveram de começar do zero. Treinaram-se sem gelo, no Texas (EUA), com um trenó de madeira; lançaram uma campanha de recolha de fundos, para angariar os 150 mil euros necessários à participação nos Jogos Olímpicos de Inverno; e, por fim, foram bem-sucedidas. Na quinta-feira, após completarem a participação em cinco provas internacionais, em três circuitos diferentes (como exigido pelos regulamentos), puderam celebrar: estão virtualmente apuradas para o evento de Peyongchang (Coreia do Sul), à conta da vaga continental – já que não há mais candidatas africanas.
Na verdade, Seun, Ngozi e Akuoma cravaram a primeira lança africana no bobsleigh e vão tornar-se as primeiras participantes nigerianas em Jogos Olímpicos de Inverno. “Estou muito emocionada. Este é um marco histórico para a Nigéria: fico orgulhosa de contribuir para que os desportos de inverno ganhem protagonismo no meu país”, afirmou Seun Adigun, após carimbar o passaporte para o evento, que decorrerá entre 9 e 25 de fevereiro de 2018.
Até lá, vão continuar as comparações com os jamaicanos, que participaram nas edições de 1988, 1992, 1994 e 1998 (e deixaram sementes, que levaram a que o país regressasse aos Jogos de Inverno em 2014). “Esses homens fizeram algo muito especial. É muito honroso que pensem que estamos a continuar o seu legado”, conclui Seun Adigun.