Diário de Notícias

O que têm em comum Stranger Things e Call of Duty?

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NRICARDO

SIMÕES FERREIRA uma época em que a indústria do entretenim­ento permanece apostada em olhar para o passado (com remakes, homenagens e obras recheadas de nostalgia), alguns casos vão surgindo que, apesar de entrarem nesta lógica, ultrapassa­m em muito a mera tentativa de capitaliza­r uma fórmula já testada.

Na televisão, o exemplo mais evidente é a série da Netflix Stranger Things. Da reconstitu­ição dos anos 80 à captação do espírito desses tempos (um mundo que, apesar da tensão da Guerra Fria, tinha um otimismo que não voltaria a repetir-se), passando pela incrível qualidade dos seus jovens atores, as duas temporadas desta série são do melhor que a indústria de televisão oferece hoje em dia.

Stranger Things mostra ainda um mundo à beira da revolução digital. Não há telemóveis nem é comum as casas de família terem computador­es. No início da segunda temporada, passada em 1984, os protagonis­tas correm para um salão de máquinas de jogos – um negócio que viria, em dez, 15 anos, a ser morto pelos PC e consolas. Um dos jogos que os miúdos escolhem é o Dragon’s Lair, criação do genial Don Bluth que, ainda hoje, é uma obra-prima da animação.

Mais de 30 anos volvidos, este jogo continua a ser divertido e, especialme­nte, um espetáculo visual (existe versão para a PlayStatio­n 3, que não resisti a correr depois de ter assistido a Stranger Things 2).

O frenesim da “casa das máquinas” reproduzid­a na série foi o início de uma indústria – os videojogos – que hoje gera mais dinheiro do que todo o cinema de Hollywood. Um negócio que, de ano para ano, se revela mais inovador e com obras de melhor qualidade do que a maioria das coisas que saem dos estúdios da “meca do cinema”.

Dois recentes lançamento­s para a última geração de consolas refletem isso mesmo: Call of Duty: WWII e Assassin’s Creed Origins. Sobre este último escreverei na próxima semana – é tão espetacula­r que merece todo este espaço.

Quanto a COD:WWII, bastaria dizer que está para os jogos first person shooting como Stranger Things está para as séries de televisão: é do melhor no género que a indústria atualmente oferece e, ao mesmo tempo, uma magnífica homenagem ao passado.

Neste mais recente título da série que teve início em 2003, Call of Duty regressa ao cenário da Segunda Guerra Mundial. No modo campanha – que só peca por não ser muito grande (joga-se em menos de oito horas) – começamos no Dia D e vamos até ao fim do conflito, passando pela Libertação de Paris.

A mecânica de jogo é a já conhecida no género, com o enfoque no “apontar e disparar”. (Há uma missão, em Paris, que inclui elementos de dissimulaç­ão ao estilo dos filmes de espionagem, no que é uma curiosa – ainda que não particular­mente desafiante – variação à ação do campo de batalha.)

Graficamen­te, COD:WWII é deslumbran­te – isto, até a correr nos “meros” 1080p da PS4 normal (o jogo corre em 4k na PS4 Pro e na Xbox One X). E o ambiente de combate é muitíssimo bem conseguido, incluindo a confusão e alguma desorienta­ção inerentes aos teatros de guerra.

Além de tudo isto, ao trazer de novo COD para a Segunda Guerra Mundial, a Sledgehamm­er Games volta a colocar-nos na última “guerra justa” da História. No fim da ficha técnica, os estúdios fazem questão de agradecer a “todos os que serviram e combateram” no conflito. De facto, em certo sentido, COD:WWII é também uma merecida homenagem aos que, com as suas vidas, impediram que a mais negra faceta da humanidade conquistas­se o mundo. E mesmo para todos nós, que não sentimos na pele esse pesadelo, é possível retirar daqui um grande (mas nada culpado) prazer por andar umas horas a fazer de conta que matamos nazis.

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