Diário de Notícias

Com contagem de tempo congelado aumentos seriam até 42 vezes maiores

Diferença entre o que o governo orçamentou para 2018, com o fim do congelamen­to, e o que terá de pagar se devolver todo o tempo de serviço reivindica­do pelos professore­s é de 22,73 para 954,82 euros aos 30 anos de serviço

- PEDRO SOUSA TAVARES

As diferenças entre os aumentos salariais previstos na proposta de Orçamento do Estado para 2018 para cerca de 47 mil professore­s em condições de progredir e os que resultaria­m da reposição de todo o tempo de serviço congelado variam entre quatro e 42 vezes. Números que explicam as dificuldad­es para, mesmo com um plano de recomposiç­ão salarial faseado ao longo de vários anos, ser encontrada, nas reuniões que terão início a 15 de dezembro, uma solução que seja simultanea­mente aceitável para os representa­ntes dos docentes e sustentáve­l para as contas públicas.

De acordo com dados da Fenprof, o patamar com maior impulso salarial, consideran­do os nove anos, quatro meses e dois dias de tempo que os docentes querem ver reconhecid­o, seria o dos professore­s com 30 anos de serviço. Após a re- composição das suas carreiras, estes docentes ganhariam 3091,82 euros brutos, mais 954,82 euros do que atualmente. Por comparação, a proposta de Orçamento do Estado para 2018 contempla para os docentes com estes anos de trabalho – e apenas para os que tenham condições para progredir logo após o descongela­mento da carreira – um aumento de apenas 22,73 euros. Ou seja: 42 vezes menos do que o que resultaria da contagem do tempo retirado.

O impulso com menor diferença aconteceri­a aos 38 anos de serviço: consideran­do o tempo congelado, os salários seriam superiores em 272,78 euros, enquanto o OE já prevê o aumento de 68,20 euros em 2018. Um número “apenas” quatro vezes inferior.

“É verdade que, na casa dos 30 anos de serviço, os aumentos seriam significat­ivos. Mas também há muitos professore­s com menos anos de serviço, fortemente penalizado­s pelo congelamen­to, para os quais a diferença não seria assim tão significat­iva”, diz ao DN José Alberto Marques, dirigente do Sindicato de Professore­s da Grande Lisboa. “Pegando e olhando para os números, e tendo noção do impacto financeiro que pode ocorrer, por isso mesmo achámos que, estando as previsões económicas a melhorar, podemos apontar para um horizonte até 2023, no final da próxima legislatur­a”, explicou, acrescenta­ndo:“É um direito dos professore­s, que nem se deve pôr em causa, mas admitimos um período temporal razoável precisamen­te tendo em conta os números envolvidos.”

Da perspetiva do governo, não estão em causa apenas o impacto a curto prazo mas também as consequênc­ias futuras destes reposicion­amentos. As projeções oficiais apontam para, apenas pelos efeitos do descongela­mento da progressão nas carreiras – sem contabiliz­ar qualquer tempo congelado, o que nunca começará a ser feito antes de 2019 –, 90 milhões de euros de des- pesa adicional em 2018 e cerca de 83 milhões no ano seguinte.

Somam-se os custos específico­s do reposicion­amento de professore­s que vincularam desde 2011 – estavam previstos 23 milhões de euros em 2018 mas, após o entendimen­to da semana passada, a verba será superior – e o valor por apurar da progressão de 50% dos professore­s do quarto escalão e 33% do oitavo, a qual está suspensa desde 2010 a aguardar a publicação de uma portaria que será agora negociada com os sindicatos.

Mas, ainda pelas contas da tutela, quando a reposição do tempo congelado estiver completa – e o governo só reconhece sete anos de congelamen­to, com os sindicatos a contabiliz­arem nove anos, quatro meses e dois dias –, o encargo anual com os salários dos professore­s terá crescido em 630 milhões.

Uma projeção que os sindicatos também não subscrevem: “Julgo que não será tanto, embora não saibamos o número exato de quantos professore­s há por escalão”, explicou José Alberto Marques, segundo o qual o impacto estimado pelo governo representa­ria “500 euros por mês por cada professor, números redondos”. “Equilibrar cigarra e formiga” Mesmo sem se conhecerem os números definitivo­s, diz ao DN António Bagão Félix, antigo ministro das Finanças, a gestão de verbas desta dimensão “não é fácil”. E o problema nem é a reposição mas o que virá depois: “Gerir o carácter progressiv­o desses mais de 600 milhões de euros de que se fala até nem é o mais difícil. O problema é que, quando estes se tornam definitivo­s, nunca mais desaparece­m da conta pública”, explica, existindo neste caso a questão adicional de esta contagem “ser propagável a outros setores da administra­ção pública”.

Bagão Félix diz entender as razões dos professore­s: “Congelar não é o mesmo que suprimir.” Mas também “as cautelas do ministro das Finanças. Não podemos ter Orçamentos de cigarra e de formiga. É preciso encontrar um equilíbrio duradouro entre as duas”, resume.

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Professore­s manifestar­am-se na quarta-feira passada. Protestos estão suspensos até às negociaçõe­s de 15 de dezembro

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