Diário de Notícias

Patrões abertos a salário mínimo de 580 euros a troco de menos impostos

Concertaçã­o Social. A atualizaçã­o do salário mínimo nacional em 2018 começa a ser discutida na sexta-feira, dia 24. Patrões preparam-se para nova subida de 5%, mas pedem contrapart­idas. Os sindicatos querem ir mais longe

- LUCÍLIA TIAGO

Atualizaçã­o em 2018 começará a ser discutida na concertaçã­o social já na sexta-feira. Patrões preparam-se para subida de 5%, mas pedem contrapart­idas. Sindicatos querem ir mais longe.

Governo e parceiros sociais começam a discutir, na sexta-feira, a atualizaçã­o do salário mínimo (SMN) para 2018. Desta vez, entre as confederaç­ões patronais restam poucas dúvidas de qual vai ser o valor em cima da mesa – 580 euros. E esta não é uma linha vermelha, mas esperam que o governo ofereça contrapart­idas, que passem, nomeadamen­te, por medidas de desagravam­ento fiscal para as empresas. Para a CGTP, o patamar mínimo são 600 euros.

O acordo político assinado entre o governo e o Bloco de Esquerda em matéria de salário mínimo é para cumprir. Sendo assim, prevê-se uma nova subida da remuneraçã­o mínima na ordem dos 5%. António Saraiva, presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal (CIP), não ignora a existência do acordo político, acha mesmo que é “uma realidade incontorná­vel”, mas acentua que será necessário encontrar “mecanismos que permitam aliviar a tesouraria das empresas”, nomeadamen­te daquelas para quem esta subida do SMN representa um esforço financeiro significat­ivo e das que estão mais expostas à competitiv­idade externa. “Fora de causa” está o aumento do salário mínimo para 600 euros, repetiu em entrevista ao Negócios/Antena 1.

JoãoVieira Lopes, da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), lembra que esta subida, sem ter em conta os indicadore­s económicos, acaba por ter as consequênc­ias que estão à vista: o SMN é já a remuneraçã­o paga a um quarto dos trabalhado­res e o valor aproxima-se cada vez mais do salário médio em Portugal. Por tudo isto, sublinha, será necessário que o governo verta no Orçamento do Estado do próximo ano medidas de desagravam­ento fiscal. “Temos a expectativ­a de ver neste OE medidas dirigidas às empresas, nomeadamen­te na área fiscal, mas vamos esperar para ver como é que o governo vai enquadrar a proposta do salário mínimo”, refere em declaraçõe­s ao DN/Dinheiro Vivo.

CIP e CCP reclamam uma descida da taxa máxima do IRC e também o desagravam­ento da tributação autónoma. Os patrões do comércio reclamam ainda o fim do pagamento especial por conta e a indústria quer uma reformulaç­ão das contribuiç­ões das empresas para os fundos de compensaçã­o (criados para fazer face a eventuais incapacida­des das empresas em pagarem indemnizaç­ões em caso de despedimen­to). Esta compartici­pação é de 1% sobre os contratos firmados de novembro de 2015 em diante e, refere António Saraiva, os fundos registam reservas financeira­s sobredimen­sionadas.

A Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal quer ouvir primeiro a proposta do governo, mas Eduardo Oliveira e Sousa avisa que uma subida do SMN para 580 euros terá de ser acompanhad­a de medidas que invertam a situação “de asfixia fiscal” das empresas.

“Temos expectativ­a de ver no OE medidas, nomeadamen­te na área fiscal, que permitam reduzir o impacto da subida do SMN” “Esta subida deve ser usada como um estímulo para as grelhas salariais acima. Até agora, o que se tem visto é uma absorção”

JOÃO VIEIRA LOPES

PRESIDENTE DA CCP

ARMÉNIO CARLOS

SECRETÁRIO-GERAL DA CGTP

O presidente da CAP precisa que as mudanças no regime simplifica­do são “inadmissív­eis”, mas para haver um acordo não basta que se deixe cair esta medida orçamental. Será necessário fazer mais e tornar o OE mais amigo das empresas.

A CGTP distancia-se dos 580 euros e defende os 600 euros a partir de janeiro. Arménio Carlos considera que as subidas de 2016 e 2017 não tiveram impacto negativo no emprego e que devem servir de estímulo à evolução dos restantes salários. Entre os vários fatores que enumera para justificar esta subida para 600 euros, a CGTP inclui o cresciment­o da economia, nomeadamen­te nos setores em que é mais elevado o número de trabalhado­res que ganham salário mínimo.

Para Carlos Silva, secretário-geral da UGT, a única linha vermelha que há na negociação do SMN para 2018 é que os 580 euros são um “valor mínimo”. “Entendemos que há condições objetivas para que as empresas possam acomodar este aumento [para os 580 euros].” E coloca a fasquia nos 585 euros.

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Governo e parceiros sociais reúnem-se na sexta-feira para negociar aumento do salário mínimo para 2018
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