Diário de Notícias

Sem rega os canteiros não sobreviver­am, só resistiram as laranjas

No jardim de Joana Mateus a água não chegou para regar os coentros e a salsa

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Joana Mateus optou por poupar na rega do quintal

ROBERTO DORES Os canteiros de alvenaria que Joana Mateus tem à porta de casa deveriam ter passado o verão e o que se leva de outono repletos de viçosos coentros, salsa e hortelã. Como acontece sempre logo após a primavera. Mas neste ano foi diferente. Só agora é que esta moradora de Juromenha (concelho do Alandroal) viu rebentar as ditas plantas aromáticas. Perante a falta de água, Joana optou por poupar na rega do quintal e só as laranjeira­s passaram ao lado da seca.

“Deixei secar isto tudo para não gastar água e estragou-se. Só dá quando se está sempre a regar. Mas, paciência, não podemos arriscar a gastar a água que faz tanta falta à vida”, diz Joana Mateus, enquanto aponta para a terra seca e dura como uma pedra no canteiro onde deveria ter nascido a hortelã, tão apreciada por estas paragens para dar mais sabor aos pratos de peixe do rio Guadiana.

“Agora é que está a rebentar alguma coisa ali no outro canteiro”, diz de balde na mão, enquanto vai lançado alguns salpicos nos vasos onde a salsa já se deixa ver e nas flores que usufruíram da sombra da alpendurad­a que sempre dá para disfarçar o calor impróprio no pico outonal. “Rego só agora, porque se gasta muito menos água do que no verão. Há dias já choveu alguma coisa, não está tanto calor e o fresco sempre ajuda”, justifica, antes de dar de beber às laranjeira­s, com uma quantidade mais generosa de água.

Joana Mateus assume que vai continuar a regar pouco. “Vamos lá ver se aproveitam­os alguma coisa”, diz, admitindo estar a viver “algo anormal aqui. Noutros anos já não precisava de estar preocupada com a rega porque a chuva tratava de tudo”, sublinha, revelando que nasceu em Juromenha, onde viveu toda a vida, mas não se recorda de uma seca tão prolongada. Encontra algo parecido recuando até 1995, quando o Guadiana secou completame­nte.

“Essa seca teve mais impacto nas pessoas, porque viam o rio sem gota de água. Agora, como temos Alqueva, as pessoas não dão tanto pelo problema”, admite, embora se congratule com o facto de “nestes meios pequenos”, onde residem cerca de cem habitantes, “as pessoas estão mais sensibiliz­adas para a poupança de água”, acrescenta­ndo que o assunto é tema de conversa séria na aldeia, onde se pede a plenos pulmões que a chuva regresse.

Que o diga Maria Leonor, pastora no sopé da encosta da Juromenha, nas margens do Guadiana, que já devia ter o rebanho de 12 ovelhas a comer das novas pastagens desde setembro, mas que ainda vê os animais “a lamberem a lama”. A expressão a que recorre para explicar a dificuldad­e do rebanho em encontrar comida numa zona do leito do rio que a albufeira de Alqueva até já encheu, mas onde hoje a água apenas é visível lá ao fundo.

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