Homenagem ao libertador
Dos grandes homens que libertaram a América Latina no século XIX, há um que ganhou notoriedade nos anos recentes ao ser eleito como modelo revolucionário por Hugo Chávez naVenezuela: Simón Bolívar. Mas se o venezuelano se distinguiu de tal maneira contra a Coroa espanhola a ponto de dar nome a um dos novos países (a Bolívia), é justo relembrar que teve um igual em José de San Martín, o argentino que percebeu que nenhuma independência latino-americana seria certa se a nível continental os fiéis a FernandoVII não fossem todos derrotados, o que o levou a libertar o Chile e o Peru.
Falo de San Martín porque amanhã o general passa a ter um busto em Lisboa, na Rotunda República Argentina (Parque das Nações). Trata-se de uma homenagem merecida e cheia de simbolismo: logo em 1821, com o governo de D. João VI ainda no Rio de Janeiro, Portugal reconheceu a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata, a futura Argentina (a Espanha só aceitou a perda da antiga colónia em 1860). Bolívar, esse, tem uma estátua em Lisboa há décadas, na Avenida da Liberdade, oferta da comunidade portuguesa na Venezuela.
Especula-se muito sobre as diferenças entre os dois libertadores: que San Martín era favorável à monarquia e Bolívar um convicto republicano ou que o argentino era menos agarrado ao poder do que o venezuelano, que além de guerrear quis governar. San Martín, recusando envolver-se nas guerras civis argentinas, morreu septuagenário em França, enquanto Bolívar desapareceu relativamente jovem, depois de ver esfumar-se o seu sonho da Grande Colômbia (atuais Colômbia, Panamá, Venezuela e Equador).
Mas o mais misterioso na relação entre ambos continua o encontro a sós em Guayaquil (Equador), a 26 de julho de 1822. San Martín regressaria nessa noite a casa, deixando parte do seu exército às ordens de Bolívar. Dois anos depois, em Ayacucho (Peru), deu-se a batalha final contra os espanhóis, selando a vitória dos rebeldes.
Há três anos, numa visita à Catedral de Buenos Aires, onde está o túmulo de San Martín, testemunhei o enorme respeito que os argentinos têm pelo seu herói. Merece também o nosso.