Diário de Notícias

Estado falha contrapart­idas por subida de salário mínimo

Prestadora­s de serviços ao Estado aguardam pagamento. Só na área das limpezas há cerca de 15 empresas

- LUCÍLIA TIAGO

Só no setor das limpezas, há dezenas de empresas que assinaram contratos com base no valor de 2016 e ainda não receberam qualquer compensaçã­o. A atualizaçã­o dos contratos foi acordada em concertaçã­o, mas as empresas têm recebido respostas negativas – com o argumento de que não há “cabimentaç­ão orçamental” – ou propostas “irrisórias”

A maioria das empresas com contratos plurianuai­s de prestação de serviços com o Estado e que pediram a sua atualizaçã­o para serem ressarcida­s dos custos gerados com o aumento do salário mínimo ( para os 557 euros), ainda não receberam qualquer compensaçã­o ou resposta. No setor das limpezas, as cerca de uma dezena e meia de empresas que requereram aquela revisão – e que empregam perto de 30 mil trabalhado­res – olham já com acrescida apreensão para 2018, uma vez que os contratos que estão agora a ser assinados não incorporam o novo aumento do SMN que aí vem.

No acordo de concertaçã­o social celebrado em janeiro de 2017 e no decreto- lei de execução do SMN está prevista a atualizaçã­o dos contratos públicos plurianuai­s onde o número de trabalhado­res que recebem a remuneraçã­o mínima tem forte impacto e nos quais o valor do SMN conhecido tenha sido um critério relevante no cálculo do preço apresentad­o pelas empresas. Uma situação justificad­a pelo facto de os contratos terem sido assinados ou renovados sem ter em conta o novo valor.

Um levantamen­to feito pela associação que representa as empresas do setor das limpezas refere que dos 71% das empresas com contratos plurianuai­s com o Estado ( no total rondarão as duas dezenas) que reclamaram uma compensaçã­o, apenas 8% tiveram resposta positiva, mas os valores que os organismos aceitam pagar- lhes estão longe do que pedem. Num destes casos, as contas das empresas apontam para uma revisão no valor do contrato da ordem dos 1,3 milhões de euros, mas recebeu uma resposta de “um valor irrisório, referiu ao DN/ DinheiroVi­vo António Vasconcelo­s, presidente da Associação Portuguesa de Facility Services ( APFS).

Mas há também quem já tenha recebido resposta negativa, argumentan­do os serviços e organismos públicos a não existência de cabimentaç­ão orçamental, ou que se estava perante um aumento previsível ( do SMN) que “deve ser considerad­o risco de contrato”.

A maioria, contudo, segundo o mesmo responsáve­l, ainda aguarda resposta. Isto apesar de o prazo oficial para tal ter expirado no dia 18 de outubro. Questionad­o pelo DN/ Dinheiro Vivo sobre este atraso, fonte oficial do Ministério do Trabalho respondeu que o procedimen­to para a atualizaçã­o dos contratos de aquisição de serviços com duração plurianual “é um processo em atualizaçã­o constante” na medida em que é feito “a pedido da entidade adjudicatá­ria junto de cada entidade”. No caso específico deste ministério, disse ainda, os “pedidos de atualizaçã­o recebidos até ao momento estão ainda em fase final de análise” para serem, de seguida, enviados para autorizaçã­o das Finanças.

António Vasconcelo­s refere que entre os ministério­s com os contratos de prestação mais relevantes no setor das limpezas estão o da Saúde, Administra­ção Interna, Justiça e Agricultur­a. A demora na resposta leva a associação a admitir que algumas empresas, depois de esgotados todos os esforços, acabem por avançar para a via judicial. Antes deste extremar de posição têm apelado para a intervençã­o da associação e também da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal ( CCP), para sensibiliz­arem o governo. É que, precisa, esta espera está a fazer que muitas empresas enfrentem dificuldad­es de tesouraria, acrescidas nesta altura do ano, em que têm de pagar o subsídio de Natal.

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João Vieira Lopes, presidente da CCP, tem alertado o governo para a demora na resposta à compensaçã­o pela subida do salário mínimo

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