Diário de Notícias

Seca ainda sem impacto nos preços dos alimentos

Seca e tempo quente beneficiar­am algumas culturas. INE aponta para boas produções de maçã, amêndoa e kiwi

- TERESA COSTA

Se é certo que o preço dos bens alimentare­s está a subir há quatro meses consecutiv­os, face aos mesmos meses do ano passado, essa subida nem sempre poderá ser atribuída ao efeito da seca ou dos incêndios. Os especialis­tas justificam- na com o aumento das importaçõe­s. Aliás, o tempo quente e seco até foi positivo para certas culturas, como revelou ontem o Instituto Nacional de Estatístic­a ( INE).

Os bens alimentare­s ficaram 1,3% mais caros, em outubro, ainda que abaixo dos 1,4% da taxa de inflação homóloga apurada pelo INE, mas subiram todos os meses desde junho.

José Martino, consultor agrícola, explica que o encarecime­nto dos alimentos não terá que ver diretament­e com a seca, uma vez que “os preços não são feitos pela produção interna, mas sim, nos mercados internacio­nais”. Considera que as importaçõe­s – que cresceram 8,2%, para 616,9 milhões de euros, em setembro – poderão ter um impacto mais relevante nessa subida. “A seca está a provocar muitos prejuízos nos produtores, mas os efeitos para os consumidor­es ainda não se notam”. Admite que a situação se altere nos mercados, sobretudo a partir do segundo trimestre de 2018.

Tirando as bebidas, os maiores aumentos anuais nos preços de bens agrícolas ocorreram nos frutos (+ 2,7%), nas hortícolas ( 1,96%), na carne (+ 1,69%) e no leite ( 1,32%). Mas nem todos os preços ao consumidor refletem o que é pago ao produtor, de acordo com dados do INE até setembro. Na produção, houve uma subida no índice de preços, por exemplo, nos ovos (+ 28,5%), no azeite a granel (+ 19,4%) e nos ovinos e caprinos, mas uma queda nos hortícolas frescos (- 8,9%), nos frutos (- 7,6%) e nas aves de capoeira (- 1,7%).

Ontem, o INE atualizou as previsões agrícolas e admitiu que a seca e o tempo quente até ajudaram na produção de maçã (+ 25% para 300 mil toneladas) e pera (+ 20% para 165 mil toneladas). No caso do kiwi, vai mesmo ser atingido um recorde de 31 mil toneladas, muito graças à entrada em produção de novos pomares. A amêndoa terá sido outra cultura beneficiad­a pelas condições atmosféric­as, com 20 mil toneladas, “uma situação inédita neste século”, com um cresciment­o de 255%. Também a vinha usufruiu, de um modo geral, e não só em quantidade (+ 10%): esperam- se vinhos de “qualidade superior”, refere o INE.

Já a castanha, “com calibres reduzidos e o miolo desidratad­o”, terá uma queda de 15%. No caso do olival para azeite, até poderá haver um ligeiro aumento na produção, mas apenas nos olivais de regadio. E o arroz também terá recuos na bacia do Sado e do Baixo Mondego, mas acréscimos na Lezíria, Grande Lisboa e Baixo Sorraia.

O INE assinala ainda que a falta de chuva obrigará os produtores pecuários a prolongare­m o período de suplementa­ção dos animais, de que resultarão custos acrescidos nas exploraçõe­s.

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