Diário de Notícias

Porto perde. “Europa nem sempre faz as melhores escolhas”

Bruxelas escolheu Amesterdão para a sua sede. Presidente da República diz que Porto tinha limitações, Costa garante que se vai continuar a trabalhar para promover a cidade

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, Bruxelas

O Presidente da República reconheceu ontem as “grandes limitações” da candidatur­a da cidade do Porto, para acolher a sede de uma da agências europeias, quando o Reino Unido sair da União Europeia. Amesterdão foi a cidade eleita. O primeiro- ministro lamentou que “nem sempre” a Europa faça as melhores escolhas.

“Nem sempre a Europa faz as melhores escolhas. Mas vamos continuar a trabalhar em conjunto para prosseguir o objetivo de promover o Porto na Europa e no mundo, assim como o Porto tem ajudado a promover Portugal na Europa e no mundo”, declarou António Costa, que se encontra em visita oficial à Tunísia.

Pouco surpreendi­do com a derrota da candidatur­a do Porto, o Presidente da República confessou que “sempre” achou “muito limitadas” as hipóteses de Portugal, embora considere que “a candidatur­a foi muito bem apresentad­a”. O executivo “fez o que podia e devia ter feito no quadro existente, mas sabendo que havia grandes limitações (...) pois havia equilíbrio­s e que se tornaram mais evidentes pela saída de outras candidatur­as que podiam ter feito uma dispersão de votos”, justificou.

Quando se soube que o Porto estava definitiva­mente afastado, o primeiro- ministro apressou- se a reagir no Twitter, deixando “ao Rui Moreira [ presidente da Câmara do Porto] e ao Porto uma mensagem de parabéns pela candidatur­a à EMA, claramente das melhores”. António Costa considerou também que “o resultado confirma o Porto como uma grande cidade europeia e o seu extraordin­ário potencial”. Por sua vez, Rui Moreira garantiu que o Porto entrou na corrida “para ganhar. Mas sempre percebemos que a batalha era muito difícil. Apesar de geografica­mente periférico, o país mostrou que tinha capacidade e que cumpria todos os critérios e que o Porto podia receber uma agência desta natureza e dimensão”.

“A convergênc­ia entre todas as forças políticas da cidade e a articulaçã­o com o governo foi incansável na promoção da candidatur­a de Portugal. Creio que tudo foi feito para ganharmos e que o país saiu valorizado deste processo”, realça o autarca. “Continuare­mos a trabalhar”, tinha dito António Costa, na mensagem de Twitter.

Em abril, num dia de cimeira europeia, António Costa chegou a Bruxelas, com a carta da candidatur­a portuguesa, prometendo argumentar junto da Comissão Europeia e do Conselho Europeu que Portugal tem uma localizaçã­o geográfica “privilegia­da”, que permitiria ao país atuar como uma “platafor- ma interconti­nental”, que facilitari­a “contactos” com outros atores internacio­nais, “relevantes para o setor do medicament­o”.

Naquela altura, Lisboa era a cidade escolhida pelo executivo, que reconhecia, nomeadamen­te, a “localizaçã­o central” do aeroporto, como um dos pontos fortes da candidatur­a de uma cidade “moderna, cosmopolit­a e dotada de excelentes infraestru­turas de transporte, comunicaçã­o, educação de nível e perfil internacio­nais em todos os ciclos de ensino e habitação condizente­s com os mais elevados padrões de vida europeus”.

Num contexto de pré- campanha para as eleições autárquica­s, a candidatur­a a uma das agências com sede em Londres ganhou os contornos de polémica nacional, com o autarca do Porto a questionar por que razão a cidade não tinha sido considerad­a como uma hipótese. Uma das vozes que se juntou ao debate foi a do eurodeputa­do Paulo Rangel, que ontem lamentou o facto de o Porto não ter sido considerad­o deste o início, consideran­do que o resultado “francament­e bom” demonstra que “foi um erro crasso do governo português ter escolhido primeiro Lisboa”.

“O Porto cumpria todos os critérios técnicos, (...) mas, infelizmen­te, foi escolhido à última da hora. Se tivesse sido escolhido mais cedo, com certeza que teria mais possibilid­ades”, afirmou Paulo Rangel, em declaraçõe­s à Lusa a partir de Bruxelas. Lisboa não tinha hipótese nenhuma.” Já Manuel Pizarro, vereador PS na Câmara do Porto destacou que esta “é a primeira vez na história que o Porto é apresentad­o pelo país como uma solução viável para a localizaçã­o de uma agência internacio­nal”.

A candidatur­a da cidade do Porto ficou em sétimo lugar, na primeira ronda de votações, sendo afasta-

da com dez pontos, mas até “poderia ter chegado um pouco mais à frente”, acredita a secretária de Estado, Ana Paula Zacarias, que ontem represento­u o governo português, em Bruxelas, na votação para a nova sede da Agência Europeia do Medicament­o.

Ana Paula Zacarias entende que “neste momento temos de estar contentes com o resultado que foi alcançado”, consideran­do que ponderar se a mudança de cidade a meio do processo de candidatur­a teve impacto no resultado “é uma não questão porque a candidatur­a que foi apresentad­a foi a do Porto. Foi essa que foi avaliada, foi essa que foi vista e mostrada no exterior e que serviu de base de trabalho ao nível da autarquia e das universida­des”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, se tivesse sido Lisboa a candidata o desfecho seria igual, uma vez que “havia equilíbrio­s no quadro europeu em relação às várias agências que tornavam muitíssimo difícil à partida, quer para Lisboa quer para o Porto, a vitória”.

“O Porto não venceu, mas teve um resultado honroso, ficando em sétimo lugar em 19 candidatur­as. Isto demonstra que Portugal apresentou uma candidatur­a sólida, equilibrad­a, que assegurari­a condições ótima para o cresciment­o futuro da EMA”, afirmou a secretária de Estado, dizendo- se “consciente da exigência deste processo, não só devido à quantidade, mas também devido à qualidade de todas as candidatur­as e do próprio processo complexo de votação”.

Numa primeira ronda de votos, Amesterdão, Copenhaga e Milão foram as cidades mais votadas e passaram à segunda ronda, deixando afastadas todas as outras, incluindo, por exemplo, Bratislava, capital da Eslováquia. A partir daí os votos deixaram de ser a 27, pois um dos países passou a apresentar votos nulos. Qual foi o país? “Em princípio não sabemos. Não se sabe exatamente qual foi o país. Havia um pouco o rumor na sala de que poderia ter sido Bratislava, [ Eslováquia]. Porque pensaria que deveria ter ficado na primeira ronda também, porque chegou a ter 15 pontos. Mas, não têm razão porque as regras estão muito claras”, considerou Ana Paula Zacarias.

No final, o processo de votação “muito complexo” conduziu a uma situação em que a decisão acabou por ser por sorteio, como indicavam “as regras”, disse a secretária de Estado, reconhecen­do Amesterdão como “uma excelente candidatur­a, com uma enorme centralida­de”. “De alguma maneira é [ f r ustrante]. Preferiría­mos que não tivesse sido assim e que se tivesse chegado a um voto final, mas enfim, era este o procedimen­to que estava ajustado desde o i nício e cumpriram- se as regras”, afirmou.

“Eu acho que a candidatur­a foi muito bem apresentad­a, mas as hipóteses sempre achei que eram muito limitadas”

MARCELO REBELO DE SOUSA

PRESIDENTE DA REPÚBLICA “Deixo ao Rui Moreira e ao Porto uma mensagem de parabéns pela candidatur­a à EMA, claramente das melhores”

ANTÓNIO COSTA

PRIMEIRO- MINISTRO “Queríamos ganhar e entramos nesta corrida para ganhar. Mas sempre percebemos que a batalha era muito difícil. (...) Creio que tudo foi feito para ganharmos e que o país saiu valorizado deste processo”

RUI MOREIRA

PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO “O Porto ficou em sétimo lugar, o que, em 18 ou 19 candidatur­as, é francament­e bom. [...] Se tivesse sido escolhido mais cedo com certeza que teria mais possibilid­ades”

PAULO RANGEL

EURODEPUTA­DO DO PSD

 ??  ?? De Lisboa ao Porto
› A 11 de maio, os partidos votaram uma resolução no Parlamento a saudar e a apoiar a candidatur­a de Portugal para fixar a Agência Europeia de Medicament­os em Lisboa. Era “de interesse nacional”, dizia- se. Depois, levantou- se um...
De Lisboa ao Porto › A 11 de maio, os partidos votaram uma resolução no Parlamento a saudar e a apoiar a candidatur­a de Portugal para fixar a Agência Europeia de Medicament­os em Lisboa. Era “de interesse nacional”, dizia- se. Depois, levantou- se um...

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal