Diário de Notícias

“A morte é um tabu, mas falar do que incomoda permite avançar”

Especialis­tas reuniram- se no Funchal para mais um debate sobre o final da vida. O papel de médicos e profission­ais de saúde com os doentes foi o tema central desta discussão

- R ÚBEN S A NTOS

A 11. ª sessão do ciclo de debates Decidir sobre o Final da Vida, organizado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, chegou ontem à Madeira, reunindo quatro oradores no Colégio dos Jesuítas, no Funchal. A opinião dos especialis­tas dividiu- se mas, como disse a médica de família Helena Fragoeiro, “a morte hoje é um tabu e fazemos de tudo para a esconder”, frisando que “estes debates têm esse benefício, ao falar de algo que nos incomoda, pois só assim podemos avançar”.

Ricardo Santos, presidente da Comissão de Ética do Serviço Regional de Saúde, Merícia Bettencour­t, presidente da Escola Superior de Enfermagem São José de Cluny, Helena Fragoeiro, médica de família e perita em medicina legal, e Marla Vieira, psicóloga clínica e psicoterap­euta no Centro Hospitalar do Funchal, foram as quatro vozes que debateram o tema. “Na eutanásia, o papel ativo é do médico. É ele quem administra a droga, no suicídio assistido, o médico ou outro profission­al vai facultar as condições para que a própria pessoa acione o mecanismo que vai fazê- la morrer”, explicou Merícia Bettencour­t sobre dois conceitos que acabam por “ser a mesma coisa, porque o doente vai morrer a pedido”.

A presidente da Escola Superior de Enfermagem São José de Cluny realçou que, como enfermeira, sempre aprendeu a defender a vida e a promover a saúde, fazendo de tudo para que “a pessoa alcance o máximo de bem- estar possível, até mesmo no momento da morte”, escolhendo nesse instante não se focar na eutanásia por ser um tema “violento”.

“Preferia ver a sociedade envolvida num movimento forte, para que as pessoas tivessem cuidados paliativos e conseguiss­em ver o seu sofri- mento melhorado e com menos utentes a pedir eutanásia”, disse Merícia Bettencour­t. Por seu turno, Ricardo Santos encara “esta discussão com muitas dúvidas, até para resolver problemas” da sua “própria consciênci­a”, realçando que durante a vida foi “treinado e formatado para salvar vidas”, paradigma que se inverte neste momento a todos os profission­ais, dado que estes “vão ser agora confrontad­os com outra situação que é ajudar a morrer”.

No entanto, o presidente da comissão de ética do SESARAM encara o princípio legal destas questões

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Especialis­tas reuniram- se ontem no Colégio dos Jesuítas para debater a eutanásia e o suicídio assistido

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