Diário de Notícias

“Vítimas já estavam fragilizad­as”

- RUI ABRUNHOSA GONÇALVES PSICÓLOGO FORENSE

Estes atos sobre pessoas que já estão internadas por estarem a passar por depressões assumem um carácter particular­mente grave? Sim, porque configuram dois tipos de crime, os abusos sexuais em si e o facto de serem, alegadamen­te perpetrado­s contra pessoas indefesas e incapazes, que estão muito medicadas e não se conseguem defender. Este tipo de casos vão aqui e ali acontecend­o e acabam por ter o mesmo enquadrame­nto do abuso sexual de menores. Isto porque as vítimas são mulheres incapazes de resistir por estarem debilitada­s física e mentalment­e. E, para mais, são utentes confiadas aos cuidados de uma unidade de saúde... O efeito destes atos, a provarem- se verdadeiro­s, é muito grave nestas pacientes. Já estão fragilizad­as pela doença e pensam que estão entregues a um sítio de confiança e nada lhes pode acontecer. Deve haver agora um especial cuidado com estas pacientes, sobretudo com a que tentou o suicídio? Uma utente que se tenta suicidar mostra ser uma pessoa com menos condições de resiliênci­a. Logo, é preciso especial atenção ao seu estado. Mas as outras utentes que terão sido vítimas também precisam de ser muito bem avaliadas em relação ao impacto dos abusos. É provável que nenhuma queira continuar internada naquele serviço por que poderão achar que não foram protegidas. Estamos perante um alegado abusador que tem uma ficha limpa, casado, com uma vida banal. Correspond­e ao perfil habitual? Correspond­e. Estes indivíduos não l evantam suspeitas, na maior parte dos casos. Têm um aspeto desviante que é mais oculto e cuidam muito bem de o disfarçar. Como terá acontecido neste caso, em que o funcionári­o escolheria bem os momentos para fazer os atos, em alturas em que não seria descoberto. Mas não se pode lançar um anátema sobre os auxiliares de saúde por causa disto.

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