Entre o mau e o pior
Ofalhanço da coligação Jamaica ( CDU/ CSU com liberais e Verdes) interrompe o estatuto de excecionalidade alemã. O farol germânico no meio da tempestade europeia começa a ser fortemente erodido. Qualquer opção que venha a ser tomada, seja um governo minoritário ( entre CDU/ CSU e Verdes), seja eleições antecipadas, são escolhas sem paralelo na República nascida da derrota de 1945. Depois de um frustrante desenlace de um mês de negociações, interrompidas pelo FDP do jovem Christian Lindner, a chanceler Merkel deverá refletir sobre a mais difícil encruzilhada da sua carreira política. No horizonte, seja qual for a estrada a seguir, as cores do crepúsculo cercam cada vez mais a chanceler. Se optar por um governo minoritário, Merkel arrastar- se- á num jogo de luta corpo a corpo parlamentar, inédito em Berlim. Serão anos em que o fardo duma governação, negociada lei a lei, decisão a decisão, sempre na linha pouco exaltante do menor denominador comum, lhe irão consumir energia e beliscar o prestígio. Se a opção recair em eleições antecipadas, é tudo menos seguro que Merkel venha a ser de novo a candidata da CDU/ CSU. É bem provável, que, caso não decida sair pelo seu pé, Merkel tenha de travar um combate pela renomeação. Nos próximos meses a Alemanha ficará à deriva, numa imitação da situação europeia, onde os sinais de fissura continuam a expandir- se. Aliás, os temas do novo impulso para o projeto europeu, e para a reforma da união monetária do euro – centrais na recente campanha presidencial de Macron – têm estado ausentes no debate alemão, onde assuntos tão europeus como as alterações climáticas ou os refugiados, são discutidos numa perspetiva redutoramente doméstica. A Europa continua atacada de sonambulismo, tendo como único verdadeiro suporte vital o das políticas monetárias do BCE de Mario Draghi. Mas só até 2019.