Diário de Notícias

Só falta a assinatura na carta de demissão de Robert Mugabe

Processo de destituiçã­o inicia- se hoje no Parlamento. ZANU- PF, no poder, e oposição votarão no mesmo sentido. Presidente expulso do seu partido. Kaunda viajou para Harare

- A B E L COELHO DE MORAIS

A carta de demissão está escrita e até garante imunidade total para Robert e Grace Mugabe, mas o presidente do Zimbabwe insistia ontem em não a assinar e convocou para hoje uma reunião do governo, dia em que o Parlamento do país deve iniciar a discussão da sua destituiçã­o.

A existência da carta foi referida em primeira mão pela televisão americana CNN e, posteriorm­ente, confirmada por duas fontes governamen­tais citadas pelo diário Newsday, de Harare.

Ontem, o presidente que insiste em manter- se em funções foi informado da sua expulsão da ZANU- PF, no poder e que dirigia até agora. A expulsão de Mugabe sucedeu após a passagem do prazo- limite que lhe fora dado para se demitir, as 12.00 ( hora local, menos duas em Portugal continenta­l). Ao mesmo tempo, o partido convocava uma reunião dos seus deputados e senadores para a preparação do processo de destituiçã­o do presidente, quando a Assembleia Nacional se reunir hoje. A ZANU- PF tem dois terços dos lugares nas duas câmaras, a maioria necessária para votar a destituiçã­o. Mas a principal força da oposição presente na Assembleia Nacional, o Movimento para a Mudança Democrátic­a, de Morgan Tsvangirai, mostrou- se disponível para votar também favoravelm­ente o afastament­o do presidente.

Com a expulsão de Mugabe, foram também afastadas mais 40 personalid­ades, entre elas Grace, demitida das funções de dirigente da liga feminina do partido, o vice- presidente Phelekezel­a Mphoko e nove ministros, um ministro adjunto e três outros membros do executivo. Ficaram também sem efeito “todas as suspensões e expulsões realizadas após o congres- “Mugabe arrogante ignora ZANU- PF”, lê- se na capa em primeiro plano de um jornal exposto numa das ruas de Harare so de 2014”, quando a fação representa­da pela mulher do presidente ( a G40) ganhou o controlo da ZANU- PF sobre a fação concorrent­e do vice- presidente Emmerson Mnangagwa ( Equipa Lacoste). Mnangagwa foi demitido no início de novembro, o que terá levado os militares a atuarem.

Na reunião da direção da ZANUPF, em que foram tomadas estas decisões, foi anunciada a manutenção do congresso partidário entre 12 e 17 de dezembro. Sinal da recomposiç­ão de forças na ZANU-- PF, com o previsível regresso em triunfo de Mnangagwa, o Newsday antecipava que este seria o candidato nas eleições presidenci­ais previstas para julho/ agosto de 2018. Mnangagwa foi designado líder provisório do partido naquela reunião.

Um desenvolvi­mento admitido ontem, de forma indireta, pelo responsáve­l máximo das Forças Armadas, general Constantin­o Chiwenga, que disse à televisão pública já se ter realizado um contacto entre Mnangagwa e Mugabe, e que o primeiro regressari­a, a curto prazo, ao Zimbabwe para conversaçõ­es com o presidente. O militar assegurou ter sido delineado um calendário para a saída de Mugabe.

Na mesma intervençã­o, o general Chiwenga garantiu que a operação desencadea­da no início do mês estava a decorrer como previsto, desvaloriz­ando o facto de, como era amplamente antecipado, Mugabe não ter anunciado a demissão no discurso televisivo feito no passado domingo.

Ainda ontem, chegou à capital, Harare, uma figura histórica das lutas de libertação em África, o primeiro presidente da Zâmbia ( 1964- 1991), Kenneth Kaunda, de 93 anos ( a mesma idade de Mugabe), para tentar convencer o presidente do Zimbabwe a “sair de forma digna”, explicou em Lusaca um porta- voz do atual dirigente zambiano, Edgar Lungu.

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