Diário de Notícias

O Porto que perca

- PAULO BALDAIA

NOTA: Crónica originalme­nte publicada a 18 de junho de 2017, um dia depois de se saber que o Porto seria candidato a receber a EMA.

Pode parecer teoria da conspiraçã­o e, na verdade, será isso no final. Vamos por partes. Sem dar cavaco a ninguém, o governo decidiu em fevereiro, com posterior voto unânime no Parlamento, que Lisboa iria protagoniz­ar a candidatur­a de Portugal para ficar com a sede da Agência Europeia de Medicament­os. Ninguém pensou numa alternativ­a, até que o Porto acordou e voltou a dizer que o rei vai nu.

Em ano de autárquica­s, o líder do PS escreveu ao presidente da Câmara do Porto explicando com todos os pormenores porque é que tinha de ser a capital a candidatar- se à agência. A carta foi divulgada, tratava- se de dar os argumentos de sempre: só Lisboa tem o que mais ninguém tem. E como é sempre assim, da próxima voltará a ser assim.

A polémica não morreu e do Norte surgiram mais vozes a fazer coro com Rui Moreira. Até os que tinham votado a favor de Lisboa passavam a estar disponívei­s para fazer campanha pelo Porto, ou por Braga, ou por Coimbra. Lá apareceu um dado novo, informação perdida no segredo dos deuses que apareceu por fonte oficial na agência oficial: Afinal, António Costa até queria que tivesse sido o Porto a protagoniz­ar a candidatur­a, mas outros não deixaram.

Podia ter ficado tudo resolvido com esta revelação, mas não ficou. Ontem, o governo anunciou que o processo ia ser retomado e o Porto entra na corrida. Deu para Manuel Pizarro sair de casa a correr e aparecer na televisão com um sorriso de quem derrotou os mouros, inclusive os do seu partido. Agora, é preciso arregaçar as mangas, como disse o candidato do PS, e fazer em poucos dias o que outros fizeram em meses.

Mas quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Foi isso que me aconteceu. Dei comigo a pensar que o governo já deve saber mais do que nós todos e que a superfavor­ita candidatur­a de Milão já deve estar praticamen­te escolhida. E ainda há Barcelona, Dublin, Amesterdão, Estocolmo... Não deve dar jeito nenhum fazer finca- pé em Lisboa e depois ter de ouvir o país de norte a sul dizer: foi para isto que candidatar­am a capital do império? Em São Bento devem ter pensado que se é para perder, o Porto que perca.

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