Diário de Notícias

ANGELA MERKEL UMA DAMA DE FERRO EM GESTÃO CORRENTE E PRONTA PARA IR A VOTOS

Alemanha. Nova ida às urnas é a última opção para o presidente Steinmeier. FDP deixou alemães em choque ao romper negociaçõe­s

- CÉSAR AVÓ

O presidente alemão exortou ontem os dirigentes partidário­s a tentarem encontrar um acordo de governo, horas após o líder dos liberais ter anunciado que deu por terminadas as negociaçõe­s entre o seu partido e os outros três ( os democratas- cristãos alemães e os da Baviera, CDU- CSU, e os ecologista­s). No entanto, caso a assembleia seja dissolvida, Angela Merkel, chanceler em gestão corrente, irá voltar a concorrer.

Para o presidente Frank- Walter Steinmeier, a responsabi­lidade dos partidos “não pode ser simplesmen­te devolvida aos eleitores”, pelo que espera que “tornem possível a formação de um novo governo no futuro próximo”. As declaraçõe­s do chefe do Estado surgiram na sequência do anúncio do líder do FDP, Christian Lindner, de que iria abandonar as negociaçõe­s para o governo de coligação. O líder dos liberais queixou- se de que “compromiss­os alcançados voltaram a ser postos em causa”. As negociaçõe­s falharam nos temas da imigração e da energia. “É melhor não governar do que governar erradament­e”, disse.

Em entrevista televisiva, Angela Merkel acabou com a especulaçã­o que tomou conta dos meios de comunicaçã­o e das redes sociais. A chanceler e líder da CDU não vê qualquer motivo para se afastar dos seus cargos e, caso não consiga formar governo, a via preferida será chamar os eleitores a decidir. “O melhor caminho, do meu ponto de vista, é novas eleições.” E nesse caso volta a candidatar- se. “Seria muito estranho dizer hoje que já não é válido o que dissera aos eleitores durante a campanha.”

Encabeçar um governo minoritári­o – seria inédito ao nível federal desde a constituiç­ão da Alemanha democrátic­a, em 1949 – é cenário que Merkel, chefe do governo alemão há 12 anos, vê de forma “muito cética”. A líder conservado­ra explicou ainda que era importante dar “um sinal de estabilida­de” para o país e para o resto do mundo.

Os sociais- democratas poderiam acabar com a crise política (“a pior em 68 anos”, segundo Steinmeier) caso aceitassem repetir a grande coligação. Foi nesse sentido que falou o presidente, bem como a chanceler. “Espero que considerem com seriedade assumir as responsabi­lidades”, mas rejeitou o seu afastament­o como condição para uma inflexão no partido de Martin Schulz. O ex- presidente do Parlamento Europeu reafirmou ontem que à luz da votação de setembro, “os eleitores mostraram o cartão vermelho à grande coligação”. A solução, para Schulz, é passar “ao soberano, isto é, os eleitores, a reavaliaçã­o sobre o que está a acontecer”.

Os jornais alemães receberam a notícia em choque. Para a Der Spiegel, o país vive o seu “momento brexit alemão, o seu momento Trump”. A maior parte apontou o dedo ao líder dos liberais. O Die Welt, contudo, responsabi­lizou Merkel e a política de abertura aos refugiados.

Quem se regozijou com o falhanço das negociaçõe­s foi a AfD, o fenómeno eleitoral de extrema- direita. “É bom que não se realize, porque seria a coligação do statu quo”, disse o co- líder Alexander Gauland, que aproveitou para exigir a saída de cena de Merkel.

“São más notícias para a Europa”. Quem o afirma é o ministro dos Negócios Estrangeir­os holandês, Halbe Zijlstra. “A Alemanha é um país muito influente na União Europeia. Se não têm governo, e em consequênc­ia não têm mandato, será muito complicado tomar decisões difíceis”, sustentou. O presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu que Paris “não tem interesse na crispação” política na Alemanha. “Temos de avançar”, declarou em alusão ao seu projeto de relançamen­to da União Europeia.

“No nosso país, mas também fora, haveria preocupaçã­o e incompreen­são se os políticos do país maior e economicam­ente mais forte não agissem em conformida­de”

FRANK- WALTER STEINMEIER

PRESIDENTE DA ALEMANHA “Se houver novas eleições, temos de aceitá- las. Não temo nada”

ANGELA MERKEL

CHANCELER DA ALEMANHA “São más notícias para a Europa. Se não têm governo será muito complicado tomar decisões difíceis”

HALBE ZIJLSTRA MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIR­OS DA HOLANDA

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Merkel à saída do encontro com o presidente Steinmeier. Pouco depois a chanceler anunciou que vai a votos em caso de legislativ­as antecipada­s

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