“Se houve um 25 de Abril na política e na sociedade, também houve para o futebol português depois de Saltillo”

“Nestes dois anos tivemos logo a noção de que para escrevermos um livro interessante sobre Saltillo teríamos de entrevistar pessoas que lá tivessem estado, não só jogadores mas também jornalistas, dirigentes e até o cozinheiro. Foi um momento de mudança do futebol português, no dirigismo desportivo, na relação com a comunicação social. Nós defendemos essa ideia na introdução. Se houve um 25 de Abril na política e na sociedade, houve também um 25 de Abril para o futebol português depois de Saltillo”, acrescenta João Tomaz.

O livro descreve ao pormenor as relações inexistentes e de conflito extremo entre a estrutura da Federação Portuguesa de Futebol da altura, liderada por Silva Resende, e os jogadores convocados por José Torres, o selecionador à data.

Pedro Adão e Silva e João Tomaz desmontam alguns mitos criados sobre Saltillo, como a greve dos jogadores que numa existiu e o que de facto eram as reivindicações dos jogadores da altura. Problemas que, defendem os autores, começaram ainda durante o Europeu de França, em 1984, mas que os bons resultados (Portugal atingiu as meias-finais) camuflaram, assim como a falta de união entre os jogadores dessa geração de 84.

“A má relação com a federação e a dificuldade de diálogo uniu os jogadores no México. A seleção do Europeu de 84 almoçava em mesas separadas, os jogadores do Benfica e do FC Porto não falavam uns com os outros. O Toni conta no livro que só faltou cada um levar a camisola do seu clube. No México eram muito próximos. Em 1986 há mais recursos, há uma transformação do futebol. Do lado dos jogadores atingiu-se um ponto que o mais provável era haver ali algum problema”, relata Pedro Adão e Silva, dando um exemplo de uma das reivindicações: “Um cartão de sócio vitalício da federação que lhes permitisse ir ao futebol sem pagar e que lhes foi negado. Hoje parece uma coisa absurda, mas para eles