Viagem de Pence ao Médio Oriente com a agenda cada vez mais vazia
Jerusalém. Vice-presidente dos Estados Unidos tem visita marcada a Israel e ao Egito no final deste mês. Netanyahu é hoje recebido por Macron, que se uniu ao presidente turco para tentar convencer Trump a voltar atrás na sua decisão
Com uma viagem ao Egito e a Israel no final deste mês, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, tem recebido nos últimos dias várias recusas de encontros que já tinha agendados para essa visita. Em sentido contrário, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não terá uma viagem fácil à Europa, que começa hoje em Paris, tendo ontem a capital francesa sido palco de uma manifestação pró-palestiniana. No campo diplomático, Emmanuel Macron e Recep Tayyip Erdogan vão trabalhar em conjunto para tentar convencer Donald Trump a voltar atrás na sua decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.
Ontem foi a vez do papa da Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, Tawadros II, de riscar da agenda o seu encontro com o vice-presidente dos Estados Unidos. Num comunicado, a Igreja Copta disse ter-se “escusado de receber Mike Pence” quando ele visitar o Egito, citando a decisão de Donald Trump “num tempo inadequado e sem consideração pelos sentimentos de milhões de pessoas”. O documento refere ainda que irão rezar por “sabedoria e para abordar todas as questões que afetam a paz para o povo do Médio Oriente”.
Os cristão coptas do Egito são a maior minoria religiosa da região, representando cerca de 10% dos 93 milhões de habitantes do país. Esta recusa em receber Pence é acima de tudo simbólica, mas mostra a solidariedade do mundo árabe com os palestinianos, independentemente das filiações religiosas.
Na sexta-feira, o grande imã de Al-Azhar, uma das principais instituições do Islão sunita e a maior figura clerical muçulmana no Egito, Ahmed al-Tayeb, também já tinha anunciado a sua recusa em receber Pence. “Al-Azhar não pode sentar-se com quem falsifica a história, rouba os direitos dos povos e agride os seus locais sagrados”, considerou na sua página oficial o Conselho dos Sábios dos Muçulmanos, presidido por Al-Tayeb.
Sem surpresa, o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, também voltou ontem atrás na intenção de receber o vice de Donald Trump. “Não haverá qualquer encontro com Pence. Os EUA pisaram uma linha vermelha que não deveriam ter ultrapassado”, declarou o assessor diplomático presidencial Majdi al-Jalidi à radio palestiniana.
A Casa Branca havia classificado na quinta-feira um possível cancelamento da reunião entre Pence e Abbas, marcada para dia 19, como “contraproducente”, garantindo que o vice-presidente norte-americano mantinha a sua intenção de se encontrar com o líder palestiniano.
Deslocação complicada tem pela frente o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que hoje é recebido em Paris pelo presidente Emmanuel Macron. Ontem, centenas de ativistas pró-palestinianos manifestaram-se na capital francesa contra esta visita, acusando Macron de ser “cúmplice” por receber no Eliseu o líder israelita.
Macron e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, vão trabalhar em conjunto para tentar persuadir os Estados Unidos a reconsiderarem a decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, disse ontem uma fonte da presidência turca. A decisão foi tomada durante um telefonema entre os dois líderes.
O presidente francês já apelidou de “infeliz” o anúncio feito na quarta-feira por Donald Trump, tendo lançado um apelo “à tranquilidade e à responsabilidade de todos”. O seu homólogo turco – que receberá amanhã Vladimir Putin, com quem discutirá a questão de Jerusalém – foi menos diplomático, optando por definir Israel como “um Estado ocupante”. A tarefa dos líderes mundiais é promover a paz e não criar mais conflitos”, disse ainda Erdogan, numa clara alusão à decisão de Trump.
A paragem seguinte de Netanyahu é Bruxelas, onde na segunda-feira estará com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com a líder da diplomacia europeia, Federica Mogherini, tendo ainda de enfrentar uma discussão sobre a situação de Jerusalém com os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.
“A União Europeia tem uma posição clara e unida. Nós acreditamos que a única solução realista para o conflito entre Israel e a Palestina é baseada em dois estados com Jerusalém como a capital de ambos”, declarou a italiana na quinta-feira. Esta frente unida europeia poderá não ser assim tão sólida, tendo em conta que a República Checa disse logo na quarta-feira estar a ponderar mudar a sua embaixada de Telavive para Jerusalém.
Muitos em Israel viram este anúncio como um apoio ao reconhecimento da cidade como capital, mas Mogherini esclareceu entretanto que o ministro dos Negócios Estrangeiros checo lhe tinha garantido que “não se tratava definitivamente de um ato de apoio à decisão da administração dos Estados Unidos”.