Diário de Notícias

Um livro para espiar estações da grande aventura de Jorge Molder

É o número inaugural da Série Ph., coleção de fotografia contemporâ­nea portuguesa que a Imprensa Nacional acaba de lançar. São edições bilingues a preços mais acessíveis do que é costume neste género de monografia­s

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MARIANA PEREIRA

Imagem da série Points of no Return (1994), de Jorge Molder, presente no livro

Cláudio, também ele fotógrafo, começou por ir ao ateliê de Jorge Molder uma vez por semana para “recolher imagens”. Entre elas, algumas inéditas: as polaroids sem data que aparecem no livro. “Ele foi incansável, teve uma total abertura para me deixar ver coisas que nunca publicou. Depois, já com Paulo Condez, montámos o livro, pusemos em confronto e em diálogo nas páginas imagens que pertencem a séries diferentes, a anos diferentes. Obviamente que não conseguíam­os pôr todas as séries, mas tentámos que abarcasse todo este percurso, de certa forma. Nessa lógica da narrativa do livro fomos criando quase pequenas histórias, depois pontuadas com páginas em branco, como se fossem o parágrafo para a história seguinte.”

Jorge Molder avisa, porém, que deixaram “por desbravar” a parte mais “obscura” do seu arquivo, e chama “selva impenetráv­el” ao pe- ríodo que vai de 1980 a 1986. É a altura dos primeiros autorretra­tos. “E esses sim são autorretra­tos, outra coisa são as chamadas autorrepre­sentações, em que eu sou o personagem. Como é que os podemos distinguir? Eu acho que numa autorrepre­sentação o artista, ou fotógrafo, ou lá como lhe queira chamar, faz um papel, e surpreende-se no papel que está a fazer; o autorretra­to tem o sentido de alguma exegese afetiva, psicológic­a, emocional, não sei muito bem caracteriz­ar, mas tem que ver com isso. Achei que se entrássemo­s por essa zona, que é uma zona curiosa, que poucas vezes mostrei, nunca mais dali saíamos. E um livro é uma coisa prática, não é? Tem um tempo de feitura, de elaboração, não pode ser assim uma coisa deixada aos caprichos de tentar incluir tudo. As coisas fazem falta até certo ponto, o que interessa também é acabar, arrumar, fechar.”

Voltamos a falar de acumulação, no que à espécie de paisagem feita pela obra de Molder diz respeito. “Eu falaria em acumulação. Felizmente, não há leituras definitiva­s do que quer que seja, porque quando há é muito mau sinal. Acho que foi um acrescento para mim mesmo, porque também é bom olhar para as coisas e dizer: pronto, isto vai ajudar-me a pensar o que é que eu fiz, a pensar o que é que eu estou a fazer, e o que projeto que vier a fazer. Este trabalho deu-me imenso prazer, mas acho que também me foi bastante útil.” Perguntamo­s-lhe se se refere a uma vontade de trabalhar que daqui surge. “Em princípio estou sempre a trabalhar. Há coisas que uma pessoa interrompe, ou porque não encontrou maneiras de continuar, ou porque se esqueceu. Acho que aqui houve também um exercício de recapitula­ção importante.”

O segundo volume deverá sair em junho, mas Cláudio ainda não diz de quem se trata. O plano para a Série Ph. é de publicar dois números por ano.

Série Ph. 01

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