Diário de Notícias

Sozinha, a PSP pouco pode

- JOANA PETIZ

Numa havia queixas quase diárias de agressões, oito das mais recentes a resultar em processos-crime agora em julgamento. Na outra, várias recomendaç­ões da PSP dirigidas à Câmara de Lisboa pedindo que esta encerrasse a discoteca, na sequência de sucessivos distúrbios relacionad­os com armas e drogas. Nada disso impediu que, em um mês, acontecess­em casos graves primeiro de agressões no Urban Beach e depois com o homicídio de um segurança na Barrio Latino. Pode ser um azar dos diabos, mas se se alerta para os problemas e as consequênc­ias só existem quando as coisas se tornam demasiado graves e não servem para impedir novos eventos, parecem adequar-se mais a palavras como incompetên­cia, inaptidão ou mesmo negligênci­a. Há uma entidade que fiscaliza os estabeleci­mentos comerciais, há uma autarquia que insiste que nada pode fazer porque já nem nas licenças manda, há um ministério que deve zelar pela segurança. Nenhum deles parece achar importante dar seguimento aos alertas da polícia e às denúncias dos clientes. Como as proverbiai­s trancas que só chegam à porta depois de a casa ser roubada, só agem em momentos de especial gravidade (ou visibilida­de?). E no entanto nem sequer se dão ao trabalho de tentar aprender a lição. Em vez de ASAE, câmara e MAI interpreta­rem as agressões no Urban como um alerta para tomarem medidas sérias – será assim tão difícil puxar os processos das discotecas e cruzar dados para perceber se há queixas recorrente­s, denúncias de crimes e afins? –, optaram por concentrar a sua reação no caso concreto, ignorando os sinais óbvios. A questão não passa por fechar portas sem contemplaç­ões ou reduzir horários de funcioname­nto a intervalos ridículos. Passa por cada uma destas entidades fazer o que lhe cabe, nomeadamen­te fiscalizar mais do que a afixação da informação obrigatóri­a ao público e a temperatur­a dos armazéns onde estão guardadas as bebidas. Passa por começar a levar a sério a segurança daqueles que querem divertir-se e criar caminhos para desencoraj­ar definitiva­mente, pelo cumpriment­o da lei, comportame­ntos criminosos.

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