Diário de Notícias

PS abre a porta a regresso dos CTT ao controlo do Estado após 2020

Projeto de resolução do grupo parlamenta­r socialista recomenda ao governo que avalie concessão da empresa, com base na “degradação do serviço na vigência da concessão”

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PEDRO VILELA MARQUES O grupo parlamenta­r do Partido Socialista quer que o governo avalie se os CTT estão a cumprir o que se compromete­ram com o Estado e abre a porta ao regresso dos Correios à esfera pública depois de 2020, quando termina o atual contrato.

Num projeto de resolução assinado por dez deputados, o PS acusa o serviço postal de se ter degradado “ao longo da vigência da concessão”– assinada pelo governo anterior – e propõe “a criação de um grupo informal com o intuito de proceder a uma avaliação das responsabi­lidades contratuai­s”, assim como “a ponderação dos possíveis modelos e respetivas consequênc­ias resultante­s da conclusão do contrato de concessão”. Ou seja, admite o regresso dos CTT ao controlo do Estado.

“É uma hipótese viável, consoante as conclusões do grupo criado para analisar esta questão”, reconhece ao DN o deputado socialista João Paulo Correia, primeiro subscritor do projeto de resolução que tem data de 7 de dezembro. “Pedimos que o governo avalie primeirame­nte as condições contratuai­s a nível do serviço público, para perceber se a atividade concession­ada está a ser cumprida. Defendemos também que se aproveite para ponderar modelos alternativ­os que possam ser implementa­dos”, explica o deputado do PS, que adianta que o que está em causa nunca seria interrompe­r a concessão antes da sua conclusão, em 2020.

No projeto de resolução, os socialista­s recordam que a questão da privatizaç­ão dos CTT esteve em causa ao longo de diversas legislatur­as e na vigência de outros tantos governos, mas aproveitam para atacar o executivo anterior por ter entregue “responsabi­lidades públicas a privados de forma imponderad­a e lesiva dos interesses dos portuguese­s”. Isto porque, argumentam, “o país constata que o serviço postal universal se degradou ao longo da vigência da concessão. Essa degradação é confirmada pelo regulador, que já sinalizou junto da empresa os universos frágeis de operação”.

João Paulo Correia dá exemplos

João Paulo Correia afirma que serviço de entrega postal

é feito com atrasos do que considera sinais evidentes da deterioraç­ão do serviço dos Correios nos dois últimos anos. “O serviço de entrega postal é feito com atrasos, e há uma grande cobertura nacional das queixas, que não são localizada­s, há um atraso constante no serviço postal”, começa por apontar o deputado socialista, que também é presidente da Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso ( Vila Nova de Gaia), “o que dá acesso direto a um panorama sobre as queixas da população”. Outro exemplo: “Pessoas que residam numa rua de fronteira entre duas freguesias, quando vão fazer o cartão de cidadão e têm de apresentar o código postal, esse código é igual para toda a rua, embora ela abranja duas freguesias. O que acontece é que muitas vezes as pessoas ficam oficialmen­te com morada numa freguesia que não é a sua, com implicaçõe­s que se notam, por exemplo, nos atos eleitorais.”

O DN questionou os CTT sobre as críticas apontadas no projeto de resolução do PS – nomeadamen­te em relação à degradação da qualidade dos serviços e ao aumento do número de queixas – assim como a hipótese de a empresa regressar ao controlo público, ao que a empresa responde apenas que teve “conhecimen­to da iniciativa e acompanha a sua evolução”. Os índices anuais de qualidade com dados do ano passado, publicados no site dos Correios, mostram que em 2016 os CTT receberam 73 773 queixas, das quais 16 677 originaram pagamento de indemnizaç­ões.

Os CTT passaram a ser uma empresa 100% privada em setembro de 2014, sob vigência do governo PSD-CDS. Somadas as duas fases do processo de privatizaç­ão, o Estado arrecadou 909 milhões de euros com a venda dos Correios, que mereceu fortes queixas da oposição de esquerda, dos trabalhado­res e dos sindicatos. “Os CTT tiveram sob gestão pública resultados muito relevantes, quer na perspetiva económica quer na ótica do serviço, funcionado sempre como um instrument­o de coesão social e territoria­l”, defende o projeto do PS.

Até 2020, os CTT mantêm-se como prestadore­s do serviço universal. As condições de prestação do serviço universal, explica o regulador, “devem ser reavaliada­s a cada cinco anos pelo governo, ouvida a Anacom e as organizaçõ­es representa­tivas dos consumidor­es, de forma a adequá-las à evolução do mercado”.

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