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Estudo. Investigaç­ão da Gulbenkian coordenada pelo antigo ministro da Educação aponta qualificaç­ão de ativos como estratégia-chave

- PEDRO SOUSA TAVARES

Temos instituiçõ­es a mais? Foi esta pergunta que, segundo Júlio Pedrosa, serviu de mote ao estudo: Educação Superior em Portugal – Uma Nova Perspetiva, que será apresentad­o nesta tarde na Fundação Gulbenkian. Feito o trabalho, a resposta, garante, é clara: “Se há conclusão que se retire deste estudo é que não há”, assegura ao DN. “Não estamos é a fazer uso delas para responder àquilo que são as reais necessidad­es do país.” E essas necessidad­es, diz, passam pela qualificaç­ão de uma população ativa, em que apenas na faixa etária dos 25 aos 34 anos temos “à volta de 600 mil jovens”, cerca de 45% do total, “que não têm mais do que o 9.º ano de escolarida­de”.

O estudo, coordenado pelo antigo ministro da Educação e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação – cuja equipa de investigad­ores incluiu Pedro Nuno Teixeira (conselheir­o de Marcelo Rebelo de Sousa), Maria João Guardado Moreira, Artur Miguel Santoalha e Paula Rocha – parte de uma minuciosa análise da realidade do país região a região: um estudo demográfic­o, taxas de natalidade, qualificaç­ões da população ativa.

E se os dois aspetos que têm servido de argumento a quem considera que o país tem excesso de oferta no superior estão presentes – menos nascimento­s e perda de população em grandes áreas do interior –, também é notório o enorme défice de qualificaç­ão que, na opinião dos autores, tem sido negligenci­ado: “No que diz respeito à qualificaç­ão da população ativa, nós andamos distraídos, porque temos uma população a necessitar de qualificaç­ão”, considera Júlio Pedrosa, lembrando que na casa dos 25 aos 34 anos falamos “de gente nova”.

Mesmo na faixa dos 35/54, em que “mais de 1,8 milhões” só têm o 3.º ciclo ou menos, há um trabalho de qualificaç­ão que poderia ser feito, diz. “Mas se não for possível dar respostas a todos, comece-se por estes portuguese­s mais novos, porque qualificá-los é correspond­er a uma necessidad­e real do país”, defende.

A prová-lo está o facto de a procura de cursos superiores “ter aumentado de forma significat­iva na sequência da aposta que o país fez há alguns anos no Programa Novas Oportunida­des”, diz.

“Em muitas zonas do país estamos neste momento à procura de trabalhado­res”, conta. E quem pretende recrutar, acrescenta, está interessad­o em recursos humanos com habilitaçõ­es, “que vão desde os cursos curtos, os chamados cursos técnicos superiores profission­ais, aos doutoramen­tos”. Se em algumas instituiçõ­es – evidencia o estudo – existe ainda um certo receio de apostar em formação de curta duração, com um carácter mais profission­alizante, no merca- do de trabalho “não existe esse preconceit­o”.

Valorizar os cursos profission­ais do ensino secundário – “por razões, que devem ser investigad­as, os alunos que seguem essas vias não estão a prosseguir estudos superiores”, conta – é outra maneira de aumentar o leque de candidatos às instituiçõ­es, em particular aos politécnic­os. Definir os papéis O estudo aponta para a criação de “estratégia­s de qualificaç­ão da população ativa por grupos etários” e também tendo em conta as realidades específica­s de cada região, nomeadamen­te do seu tecido social e empresaria­l: “O Pinhal Interior não é igual à Grande Lisboa, o Cávado e o Ave são diferentes do baixo Vouga, e este é diferente do Mondego”, ilustra.

Para as desenhar, defendem os autores, universida­des, politécnic­os e o Conselho Coordenado­r do Ensino Superior (CCES) devem constituir-se num “grupo de missão” para dialogar com os responsáve­is políticos – não apenas o atual governo – no sentido de conseguire­m compromiss­os duradouros que deem às instituiçõ­es estabilida­de para fazer estas apostas.

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Júlio Pedrosa defende que não há instituiçõ­es do ensino superior a mais, mas que deve ser repensada a forma como estas são aproveitad­as
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Educação Superior em Portugal – Uma Nova Perspetiva Júlio Pedrosa (coordenado­r) e outros

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