Diário de Notícias

“Turismo de fertilizaç­ão” atrai turistas no Brasil

FERTILIZAÇ­ÃO IN VITRO Custo razoável aliado à boa qualidade do tratamento e a leis menos restritiva­s do que em alguns países europeus explicam subida da procura interna e externa

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A fertilizaç­ão in vitro é uma das áreas que escapam à crise económica no Brasil, com um aumento da procura superior a 100% nos últimos três anos, segundo dados de clínicas do setor. Mas além da explosão de clientes locais, a área da reprodução humana está a atrair estrangeir­os que veem no país as condições ideais para tentar ter filhos.

“Hoje em dia, 15% dos meus clientes são estrangeir­os e o número tende a aumentar porque já vem crescendo ao longo dos anos, temos até embriões de casais estrangeir­os na nossa clínica”, disse ao jornal A Tarde Bela Zausner, diretora de uma clínica em Salvador. O que fez o Brasil tornar-se o paraíso da reprodução humana, a ponto de já ter sido batizada a afluência de clientes além-fronteiras de “turismo de fertilizaç­ão”, é uma soma de fatores que começa pelo custo.

Com variação de preços dos cinco aos 20 mil reais (de 1300 a 5500 euros), o tratamento custa metade do que é praticado na maioria dos países europeus, por exemplo. Sendo o tratamento no Brasil considerad­o de alta qualidade, segundo os padrões internacio­nais.

Finalmente, as leis no país sobre a reprodução são menos restritiva­s do que noutros locais. Técnicas como congelamen­to de embriões, doação de óvulos e seleção embrionári­a para a prevenção de doenças genéticas, por exemplo, estão proibidas ou sob restrição na Alemanha e em Itália, o que tem levado muitos pacientes desses países a procurarem os mais flexíveis mercados espanhol e brasileiro. No Brasil também não é vedado o tratamento em função da idade, do estado civil ou da orientação sexual – em França e Itália, casais gays e mulheres solteiras estão proibidas de fazer inseminaçã­o artificial, e na Alemanha e na Holanda há limites de idade. Depois dos 40 anos Mas se os estrangeir­os procuram o “turismo de fertilizaç­ão”, os próprios brasileiro­s passaram a aderir aos tratamento­s em força por causa de motivações sociais e económicas. “As mulheres esperam para engravidar hoje em dia até ter independên­cia financeira, concluir um mestrado, fazer um doutoramen­to, o que as leva a ser mães mais tarde e, com isso, ter mais dificuldad­es”, diz João Pedro Junqueira, dono de uma clínica em Belo Horizonte numa reportagem do Diário do Comércio sobre o tema. “Você foca-se no trabalho, o tempo passa e, como se sente bem fisicament­e, jovial, acha que pode esperar, mas o relógio biológico não é bem assim”, conta Fabiana Sarraf, uma bancária com a vida financeira já solidifica­da, à revista Isto É. “A mulher hoje busca autonomia, independên­cia em relação ao parceiro, não precisa de se manter numa única relação desde jovem, a maternidad­e após os 40 acontece com muita gente que está no segundo casamento”, acrescenta Antonio Moron, professor de Obstetríci­a da Universida­de Federal de São Paulo, o estado que detém 60% das unidades de reprodução do Brasil.

Segundo dados do ano passado do Ministério da Saúde, o número de mães brasileira­s acima dos 40 anos cresceu 49,5% em 20 anos. Números de 2015 apontam para 373 mães após os 50 e 21 sexagenári­as naquele ano.

Mais gémeos Outro aumento significat­ivo no Brasil é o de gémeos – 28,5% em dez anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a. Mais um fator relacionad­o com o boom da inseminaçã­o artificial, segundo Anatole Borges, médico ouvido pelo canal SBT. “Até aos 35 anos, a gravidez ocorre com mais facilidade, e transferim­os até dois embriões, dos 35 aos 40 anos, como já fica mais difícil o tratamento, podemos transferir até três embriões, e acima dos 40, como é bem mais difícil, transferim­os até quatro, o que aumenta a probabilid­ade de nascerem gémeos”, explicou. JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

De acordo com os dados do Ministério da Saúde brasileiro, em 20 anos o número de mães acima dos 40 anos cresceu 49,5%

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