Diário de Notícias

Macron pede a Netanyahu “gestos de coragem para com os palestinia­nos”

Jerusalém. A Fatah apelou à continuida­de dos protestos e ao seu alargament­o em todos os pontos onde existam militares israelitas. EUA insistem que decisão de Donald Trump vai fazer avançar o processo de paz israelo-palestinia­no

- ANA MEIRELES

“Convidei o primeiro-ministro a dirigir gestos de coragem para com os palestinia­nos para sair do atual impasse”

EMMANUEL MACRON

PRESIDENTE DE FRANÇA “Aqui está o gesto que ofereço ao Sr. Abbas para se sentar e negociar a paz. Isso é um gesto para a paz. Nada poderia ser mais simples”

BENJAMIN NETANYAHU

PRIMEIRO-MINISTRO DE ISRAEL

Não se esperava um encontro fácil ontem no Eliseu entre o presidente francês e o primeiro-ministro israelita, tendo em conta que Emmanuel Macron já havia dito publicamen­te, como ontem voltou a fazê-lo ao lado de Benjamin Netanyahu, que a decisão de Donald Trump reconhecer Jerusalém como a capital de Israel representa “uma perigosa ameaça para a paz”.

Embora condenando todos os atos de terrorismo contra Israel, Macron afirmou ter pedido a Netanyahu para “dirigir gestos de coragem para com os palestinia­nos para sair do atual impasse”, sugerindo que a suspensão da construção de colonatos seria um bom primeiro passo. O líder francês defendeu ainda que a solução de dois Estados é a única viável para pôr um fim ao conflito israelo-palestinia­no.

Benjamin Netanyahu respondeu ao apelo francês dizendo que quanto mais depressa os palestinia­nos reconhecer­em a “realidade” de que Jerusalém é de facto a capital de Israel mais depressa serão desbloquea­dos os esforços para a paz. “A coisa mais importante sobre a paz é reconhecer que o outro lado tem o direito a existir”, afirmou o chefe do governo israelita, acrescenta­ndo que “uma das manifestaç­ões desta recusa é a mera recusa de se sentar à mesma com Israel”. “Aqui está o gesto que ofereço ao Sr. Abbas para se sentar e negociar a paz. Isso é um gesto para a paz. Nada poderia ser mais simples”, declarou.

Macron, por seu turno, disse não esperar nenhum avanço a curto prazo, mas referiu a importânci­a de ver o que a proposta de paz dos Estados Unidos – aguardada para o início do próximo ano – trará antes de afastar Washington como mediador. Mas afastou a possibilid­ade de França assumir esse papel.

Após quatro dias, os protestos nos território­s palestinia­nos contra o anúncio de Donald Trump começam a acalmar, mas esta viragem na política externa dos Estados levou o mundo árabe a alertar para os danos causados pela perspetiva de um possível acordo de paz no Médio Oriente. “A nossa esperança é de que tudo acalme e que regressemo­s à vida normal sem distúrbios e sem violência”, afirmou o ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman.

Em Jerusalém, um segurança israelita ficou em estado grave depois de um palestinia­no de 24 anos da Cisjordâni­a o ter esfaqueado no principal terminal de autocarros da cidade. Junto à Faixa de Gaza, o exército israelita destruiu ontem o que diz ser um “significat­ivo” feito pelo Hamas para atravessar a fronteira. Até ao fecho desta edição não houve uma reação por parte do grupo palestinia­no.

Em Beirute, junto à Embaixada dos EUA, forças de segurança libanesas dispararam gás lacrimogén­eo e canhões de água contra grupos de manifestan­tes que incendiara­m bandeiras israelitas e norte-americanas e atiraram objetos contra os guardas que barricavam a principal entrada do complexo.

A Fatah, movimento a que pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestinia­na, Mahmud Abbas, pediu que seja dada continuida­de às manifestaç­ões contra a decisão dos EUA e que estas sejam alargadas a todos os pontos onde o exército israelita está presente.

A maior parte da comunidade internacio­nal considera Jerusalém Oriental, que Israel anexou após a Guerra dos Seis Dias em 1967, como um território ocupado e alega que o estatuto de cidade deveria ser decido em futuras negociaçõe­s israelo-palestinia­nas. Israel defende que toda a cidade é a sua capital, enquanto a Palestina quer que a zona oriental seja a capital de um futuro Estado independen­te.

Os ministros dos Negócios Estrangeir­os da Liga Árabe, que se reuniram de emergência neste fim de semana no Egito, apelaram a que os Estados Unidos abandonem o plano de mudar a sua embaixada para Jerusalém e deixaram claro o seu receio de que esta decisão origine uma onda de violência na região.

A Casa Branca garantiu estar comprometi­da com o retomar das negociaçõe­s israelo-palestinia­nas, suspensas em 2014, afirmando a necessidad­e de descartar políticas antigas para acabar com este impasse. Para a administra­ção Trump, é ponto assente que Jerusalém será a capital de Israel em qualquer plano de paz, não tendo ainda tomado nenhuma decisão sobre as fronteiras da cidade.

Na sexta-feira, a embaixador­a dos Estados Unidos junto da ONU disse que Washington continua a ter credibilid­ade como mediador junto de Israel mas também dos palestinia­nos, adiantando que a administra­ção Trump está a trabalhar num novo plano de paz. Ontem, Nikki Haley voltou a abordar este assunto, afirmando que a decisão dos EUA vai “fazer avançar o processo de paz”, mesmo com os avisos em contrário dos líderes palestinia­nos.

Em jeito de resposta, o ministro dos Negócios Estrangeir­os palestinia­no, Riyad al-Maliki, adiantou entretanto que estão à procura de um novo mediador de paz que ocupe o lugar dos Estados Unidos e que iriam pedir uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU sobre a decisão de Trump sobre Jerusalém.

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Emmanuel Macron recebeu Benjamin Netanyahu neste domingo no Eliseu, emParis

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