Pietro Grasso: antigo juiz antimáfia agora lidera a nova esquerda
Deixou o PD de Matteo Renzi e é o líder do recém-criado Livre e Igual. É presidente do Senado e candidato a primeiro-ministro em 2018
ANA MEIRELES “O PD já não existe.” As palavras são de Pietro Grasso, o presidente do Senado italiano e um conhecido magistrado siciliano antimáfia que no início deste mês foi eleito líder do Livre e Igual, uma formação política nascida pelas mãos de vários dissidentes do Partido Democrático e que tenciona ser uma alternativa ao centro-esquerda do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi.
O projeto deste novo partido já estava a ser pensado há meses, mas faltava-lhe uma figura de destaque que acabou por chegar recentemente quando Grasso, de 72 anos, decidiu abandonar o PD. O senador é também o candidato a primeiro-ministro nas eleições previstas até maio do próximo ano e aspira a conseguir cerca de 10% dos votos. Neste momento, graças às deserções, já contam com 60 deputados, 23 senadores, seis eurodeputados e um representante no governo da Sicília. A seu lado, Grasso tem o ex-primeiro-ministro Massimo d’Alema e Pierluigi Bersani, antigo secretário-geral do PD, os dois mentores deste novo partido. “Um homem apenas rodeado de sim senhores não pode ter sucesso”, afirmou o senador, numa referência a Renzi, que acusa de não saber delegar.
Pietro (também conhecido como Piero) Grasso é uma das figuras de topo da luta contra a Cosa Nostra. Em 1980, teve a seu cargo a investigação do assassínio de Piersanti Mattarella, na altura presidente da Sicília e irmão do atual chefe do Estado italiano, Sergio Mattarella.
Cinco anos depois, foi nomeado para o coletivo de juízes do primeiro megaprocesso contra a máfia siciliana, com 475 acusados. Foi então que iniciou uma estreita colaboração com os famosos magistrados antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, mortos em 1992.
Após este processo, Grasso continuou ligado à luta contra a máfia, como procurador de Palermo, procurador adjunto e procurador da Diretoria Nacional Antimáfia. Carreira que só abandonou em finais de Grasso num evento dos 70 anos da República italiana em dezembro do ano passado 2012, quando anunciou que seria candidato do PD ao Senado nas eleições do ano seguinte. Conseguiu ser eleito não só senador, mas também presidente do Senado, cargo que ainda ocupa.
Uma curiosidade: a 14 de janeiro de 2015, com a demissão de Giorgio Napolitano, tornou-se o presidente de Itália em funções. Mandato que terminou a 3 de fevereiro, quando Mattarella tomou posse. Renzi sem aliados Renzi, cujo Partido Democrático está a perder terreno nas sondagens, sofreu um novo revés na semana passada quando dois dos seus aliados anunciaram que não serão candidatos em maio.
Na quarta-feira, Giuliano Pisapia, antigo autarca de Milão, disse que o seu Campo Progressista, que se esperava que fosse a eleições coligado com o PD, iria dissolver-se. Pisapia afirmou que ficou provado ser “impossível continuar a negociar com o PD” e queixou-se da falta de vontade de Renzi para promover uma contestada lei que tornaria mais fácil aos filhos de imigrantes obter a nacionalidade italiana.
Horas mais tarde, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Angelino Alfano, líder do partido centrista Alternativa Popular, que faz parte da coligação governamental do PD, disse que não iria candidatar-se em maio, levantando dúvidas sobre o futuro da formação política que fundou.
Estes dois partidos têm, segundo as sondagens, menos de três por cento das intenções de voto, mas estas últimas deserções deixam o enfraquecido PD de Renzi virtualmente sem aliados.