Diário de Notícias

Primeiro ciclo vai perder seis mil alunos por ano já a partir de 2018

Conselho Nacional de Educação preocupado com impacto da diminuição da população escolar na organizaçã­o da rede

- PEDRO SOUSA TAVARES

O Conselho Nacional de Educação (CNE) está preocupado com as consequênc­ias que a quebra da taxa de natalidade no início desta década, associada a saldos migratório­s negativos durante os anos da intervençã­o externa, terá na organizaçã­o da rede escolar. Até 2020, avisa o relatório “O estado da educação 2016”, que será hoje apresentad­o, as escolas públicas e privadas perderão seis mil novos alunos por ano.

“O decréscimo acentuado da população residente em Portugal, nos últimos anos, perspetiva uma redução média anual do afluxo de novos alunos do 1.º ciclo do ensino básico”, alerta Maria Emília Brederode dos Santos, presidente do CNE, na introdução do estudo. “A diminuição da população escolar e a sua localizaçã­o maioritári­a no litoral permitem antever um impacto na organizaçã­o da rede escolar dos ensinos básico e secundário (público e privado) que merece reflexão”.

A quebra da natalidade começou a ser invertida em 2015, recorda o CNE, com “87 126 nados-vivos em 2016, mais 1626 do que no ano anterior e mais 4759 do que em 2014”. No entanto, nos próximos anos as escolas continuarã­o a sentir o impacto da tendência de quebra registada desde o início do milénio, com uma descida superior aos 30% até 2014. “Atendendo à queda abrupta entre 2010 e 2013, perspetiva-se para os próximos anos uma redução média anual do afluxo de novos alunos no 1.º ciclo de ensino básico de mais de 6000 crianças, realidade que não será contrariad­a antes de 2020.”

Entre o litoral (sobretudo os grandes centros urbanos) e o interior do país há grandes assimetria­s na distribuiç­ão de crianças, em particular das mais novas, mas segundo o CNE, que cita dados do Pordata, a quebra do número de alunos será uma realidade “em todas as faixas etárias” do ensino não superior e em todo o país. Este quadro leva os conselheir­os a recomendar­em uma atenção cada vez maior à formação de adultos e à formação ao longo da vida, vista como uma forma de não só melho- rar os ainda baixos níveis de qualificaç­ão dos portuguese­s como uma forma de aproveitar a capacidade instalada na educação. Rapazes e o abandono Pela positiva, o CNE salienta “o aumento do número de vagas para o acesso ao ensino superior e da percentage­m de vagas preenchida­s, em 2015-2016”, sendo certo que no atual ano letivo essa tendência manteve-se. A explicação passa pelo alargament­o da escolarida­de obrigatóri­a e também pela melhoria dos resultados escolares das atuais gerações de alunos em todos os indicadore­s nacionais e internacio­nais. Entre vários exemplos citados, são referidos os testes TIMMS, que avaliam o desempenho na Matemática, em que os estudantes portuguese­s passaram de resultados fracos, em 1995, para desempenho­s que os colocam acima da média.

Nos ensinos básico e secundário, é destacada “a subida para 14% em 2016 da taxa de abandono precoce da educação e formação que apresentav­a uma tendência de diminuição, situando-se agora a 4 pontos percentuai­s (p.p.) da meta europeia definida para 2020 (10%)”. Dados que motivam um alerta do CNE, que lembra que “apesar de se observar uma redução nas taxas de retenção e desistênci­a no ensino regular na maioria dos anos de escolarida­de, subsiste um desfasamen­to entre a “idade normal” de frequência de cada ano, que se adensa à medida que se avança no nível de ensino, consequênc­ia do elevado nível de retenção que ainda se observa”.

No caso concreto do aumento da taxa de abandono precoce – que baixou 22,5 pontos percentuai­s ao longo da última década – o aumento de 2016 não é relacionad­o pelo CNE com questões de política educativa mas, sim, com o género dos alunos: “Este cresciment­o é provocado por um acréscimo de 1 p.p. na população masculina em 2016 (17,4%), uma vez que, na população feminina, esta taxa tem vindo sempre a decrescer, atingindo em 2016 os 10,5%”, explica.

No entanto, e dado o fosso que ainda separa os alunos portuguese­s de outros países, o CNE defendeu a importânci­a de se continuar a apostar em estratégia­s promotoras do sucesso escolar, alertando para as dificuldad­es que o sistema continua a sentir para recuperar alunos que apresentam desempenho­s negativos. Na introdução, Maria Emília Brederode dos Santos aponta a “prevalênci­a da metodologi­a expositiva na sala de aula como uma das causas possíveis.

O relatório “O estado da educação 2016” foi coordenado, até outubro deste ano, por David Justino, antigo presidente do CNE, e desde essa altura pela atual presidente deste órgão consultivo.

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A quebra do número de alunos será uma realidade “em todas as faixas etárias” do ensino não superior e em todo o país

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