Tempestade Ana arrancou parte do telhado do Liceu Camões
Parte do telhado voou, caiu no pátio, mas não atingiu alunos. Diretor da escola pede vistoria ao edifício e reunião com o ministro
“Este edifício não resiste a outro inverno... Hoje [ontem] não houve feridos, mas este acidente veio dar sinal de que é mesmo urgente começar as obras. Pode haver um acidente grave, estão aqui diariamente 1600 alunos e 200 funcionários...” O aviso é do diretor do Liceu Camões, João Jaime Pires, que em declarações ao DN não escondeu a preocupação com a acentuada degradação do edifício e com o constante adiamento das obras.
Ontem, perto do meio-dia, um vento forte evidenciou as fragilidades do telhado na zona sul. Voaram dezenas de telhas e partes dos algerozes, que caíram no pátio da escola. “Um professor disse que sentiu as paredes a tremer... Não houve nenhum ferimento porque a maioria dos alunos estava nas salas de aula. Com intervenção dos bombeiros, foi criada uma área de segurança e limpouse o telhado para retirar as telhas soltas que suscitavam situações de perigo. Amanhã [hoje] de manhã começam os trabalhos de recuperação dos estragos. Os alunos não vão ficar sem aulas nesta semana antes das férias do Natal”, garantiu João Jaime Pires, que reportou estes mesmos esclarecimentos ao Ministério da Educação. Ao mesmo tempo solicitou uma reunião de urgência e pediu que fosse feita uma vistoria para se saber se existem ou não outras debilidades num edifício que conta com 108 anos de história – a Escola Secundária de Camões foi inaugurada a 16 de outubro de 1909, edifício Ventura Terra em forma de E, classificado desde 2012 como monumento de interesse público.
Porém, ao final do dia, João Jaime lamentava a ausência de resposta por parte do gabinete de Tiago Brandão Rodrigues.
Contactado pelo DN, o Ministério da Educação enviou uma nota a dar conta de que as obras de recuperação da zona afetada pelo vento forte vão começar. Mas sobre o pedido de reunião nada foi referido.
João Jaime espera que esta ausência de resposta não se prolongue por muito tempo. É que já espera há dois meses por outro pedido feito à tutela e a escola aguarda há, pelo menos, seis anos por uma intervenção de recuperação que nunca arrancou por falta de recursos.
“Há dois meses que pedimos uma reunião com o ministério devido às obras que estão prometidas. Dizem que há dinheiro, mas é preciso urgência para a Parque Escolar começar as obras”, comenta o diretor, que estima que nos sucessivos pensos-rápidos aplicados no liceu nos últimos quatro anos – para tapar alguns buracos, atenuar as infiltrações, pinturas, remendar a canalização, eletricidade e telhado – já foram gastos perto de 500 mil euros.
O Camões foi relegado para a terceira fase de obras da Parque Escolar. E a recuperação que deveria ter sido feita em 2011 nunca arrancou. Na altura foi feito um projeto que previa obras no valor de 17,5 milhões de euros. O ministério pediu para o projeto ser reformulado de forma a não passar dos 12 milhões de euros. Assim foi feito. O ministério assinou a portaria, mas para avançar era também necessário a assinatura do Ministério das Finanças, que demorou cinco meses para o fazer.
Com o concurso público ainda por abrir e o processo a arrastar-se, o diretor da escola receia que a Parque Escolar só pretenda arrancar com as obras em 2019: “Receio que toda esta situação seja adiada mais uma vez e que se chegue ao final de um mandato com o compromisso por cumprir. Sinto que este edifício não resiste a outro inverno.”
Nos últimos quatro anos, em remendos diversos no edifício do Liceu Camões já foram gastos perto de 500 mil euros