Portugal tem “boas histórias para contar” na cimeira sobre o clima
Ministro do Ambiente diz que Portugal vai partilhar o que tem feito no domínio da mobilidade elétrica e das energias renováveis no encontro que decorre hoje na capital francesa
JOANA CAPUCHO A cimeira sobre o clima que se realiza hoje, em Paris, deverá servir para reforçar o compromisso político assumido em 2015 na capital francesa para travar as alterações climáticas. Dois anos após a assinatura do Acordo de Paris, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, espera que seja discutido o financiamento para a ação nas alterações climáticas, nomeadamente nos países mais vulneráveis, e partilhadas as boas práticas adotadas nos diferentes estados. “Em Portugal, no domínio da mobilidade elétrica, das energias renováveis, da substituição de meios de transporte por outros menos poluentes”, diz ao DN.
Marcada pela ausência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a One Planet Summit (Cimeira Um Planeta, em português) deverá reunir 50 chefes de Estado e governo, entre os quais o primeiro-ministro português. Segundo João Matos Fernandes, será a cimeira “que reunirá o maior número de chefes de Estado” desde o compromisso assumido por 195 países há dois anos de conter em 1,5 graus a subida da temperatura. Portugal, adianta, “tem boas histórias para contar e partilhar” tendo por base o objetivo que assumiu de em 2050 ser “neutro em relação às emissões de gases carbónicos”.
O ministro do Ambiente diz que será discutido “o financiamento da
Matos Fernandes quer financiamento discutido ação climática dos Estados mais vulneráveis”, um ponto no qual a saída da administração americana se revela “preocupante, porque os Estados Unidos eram um dos maiores doadores deste processo”. Além disso, prossegue, estará em cima da mesa “o próprio financiamento da economia”. “Todos os países têm de fazer um esforço para ter uma economia de baixo carbono e por uma economia tendencialmente circular, na qual os produtos são desenhados para viver mais tempo.”
A iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, é, para a Quercus, “uma tentativa de tornar a pôr a França e Paris na agenda de combate às alterações climáticas”. João Branco, presidente da associação ambientalista, aplaude-a, mas diz que, tal como nunca tiveram “grandes perspetivas” em relação à Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e ao Acordo de Paris, “será sempre uma reunião com poucas consequências”. “A realidade mostra que os países falam muito, mas mostram pouco empenho”, diz ao DN. Refere-se, por exemplo, à saída dos EUA do acordo e ao projeto de gás liquefeito inaugurado recentemente na Rússia. “Mesmo o governo português mostra sinais contraditórios, porque, por exemplo, concedeu licenças para a exploração de petróleo no litoral alentejano”, critica.
Em Portugal, lembra o responsável, “só o dióxido de carbono libertado nos incêndios foi cinco vezes superior à média dos últimos anos”, um problema agravado pela seca, que reduziu a possibilidade de usar energias renováveis. “Não estamos a diminuir as emissões”, sublinha. Matos Fernandes reconhece que este foi “um ano menos bom”, mas “certamente será compensado nos próximos anos”.
Para a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que estará representada na iniciativa pelo seu presidente, Francisco Ferreira, a cimeira “pode dar um impulso ao ano que vem colocando na mesa novas e concretas soluções de financiamento público e privado, ambos críticos para uma ambiciosa ação climática”.