Preço da dívida desce para valor mais baixo desde entrada no euro
Substituir empréstimos do FMI por dívida mais barata ajudou a baixar custo da dívida. Tesouro vai fazer novo reembolso de mil milhões até ao final do ano
RUI BARROSO O custo médio da dívida portuguesa vai descer pelo terceiro ano consecutivo e ficar no preço mais baixo desde a entrada no euro, em 2002. O Tesouro tem aproveitado as condições de financiamento favoráveis proporcionadas pela atuação do BCE e pela melhoria do rating. Além destes fatores, o Estado tem feito operações de gestão, substituindo os empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) por dívida mais barata. Mas apesar de o preço ser mais baixo, a subida do valor total da dívida nos últimos anos faz que Portugal tenha a fatura com juros em relação à economia mais elevada da zona euro.
Neste ano o Tesouro pagou em média 2,6% pela nova dívida, segundo dados de uma apresentação a investidores feita pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). É a taxa mais baixa dos últimos anos e ajudou o custo médio de toda a dívida a baixar de 3,2% em 2016 para 3% em 2017. E é o valor mais baixo desde 2000, data dos últimos dados disponibilizados pela entidade que gere a dívida pública. Menos de metade do custo médio da dívida em 2011, ano em que Portugal foi forçado a pedir o programa de resgate. do Tesouro de rendimento variável (OTRV ). Essa estratégia voltou a ser seguida no final deste ano. Em novembro, o Tesouro financiou-se em 1,3 mil milhões de euros em OTRV, com uma taxa de 1,10%. E depois de o Estado já ter reembolsado antecipadamente 9000 milhões de euros ao FMI desde o início do ano, vai pagar mais mil milhões neste mês. O dobro do inicialmente anunciado. A entidade liderada por Christine Lagarde cobra 4,3% pelo empréstimo; no mercado secundário, os investidores exigiam ontem 1,792%, menos de metade da taxa do FMI, para comprar dívida a dez anos. Os reembolsos têm permitido baixar a fatura que Portugal paga pelos empréstimos da troika. Nos primeiros dez meses deste ano, esses empréstimos tiveram um custo 1,38 mil milhões de euros, menos 210 milhões do que no mesmo período de 2016, segundo os dados mais recentes da Direção-Geral do Orçamento. Já a fatura total com juros da dívida deverá cair neste ano em 192 milhões de euros, para 7,13 mil milhões de euros, segundo as estimativas constantes no Orçamento do Estado.
Apesar da descida, o fardo dos juros em relação à dimensão da economia continua a ser o mais elevado da zona euro. O serviço da dívida vai consumir neste ano o equivalente a 3,9% do PIB, de acordo com as previsões da Comissão Europeia. A média da zona euro é de 2%. Ainda assim, esse indicador também tem caído nos últimos anos. Em 2016, os juros pesaram 4,2% do PIB e, em 2013 e 2014, representaram 4,9% do PIB. Bruxelas estima que em 2019 a fatura com juros seja equivalente a 3,5% da economia. Tesouro planeia reembolsar antecipadamente mil milhões ao FMI neste mês.
O dobro do previsto Novo reembolso ao FMI As baixas taxas de juro no mercado permitiram que o Tesouro acelerasse a estratégia de reembolsos ao FMI, substituindo os empréstimos concedidos por esta instituição pelos do mercado, que cobra juros mais baixos, ou pela dívida de retalho, como os certificados de poupança ou as obrigações