Diário de Notícias

UE deixa Netanyahu isolado na questão de Jerusalém

Primeira visita de um chefe do executivo israelita em mais de 20 anos não mudou posição europeia. Mogherini insiste em Jerusalém como capital de Israel e da Palestina

- ABEL COELHO DE MORAIS

“Devemos dar uma hipótese à paz. Vermos os factos e percebermo­s se podemos avançar para a paz”, disse ontem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, falando em Bruxelas, onde esteve reunido com a alta representa­nte da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, e com os ministros dos Negócios Estrangeir­os dos Estados membros.

Os “factos” a que o governante israelita se referia são o reconhecim­ento pelo presidente Donald Trump de que “Jerusalém é a capital de Israel, o que ninguém pode negar”, e que “Israel é a potência mais forte no Médio Oriente e está a impedir a propagação do islamismo militante”. Netanyahu declarou ainda esperar que “todos ou a maioria” dos membros da UE transfiram as respetivas embaixadas para Jerusalém. O otimismo de Netanyahu não teve qualquer eco em Bruxelas.

Numa conferênci­a de imprensa conjunta com o governante israelita, a chefe da diplomacia europeia garantiu existir “total unidade” em torno do “consenso internacio­nal” de que Jerusalém deve ser a capital do Estado de Israel e do futuro Estado da Palestina. E que o estatuto da cidade “deve ser definido através de negociaçõe­s entre as duas partes”, isto é, israelitas e palestinia­nos. Uma posição que o ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, Augusto Santos Silva, sintetizou da seguinte forma: “O governo português ficará extremamen­te feliz no dia em que puder reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel, transferin­do a sua representa­ção diplomátic­a em Israel de Telavive para Jerusalém, porque esse será o exato dia em que Portugal poderá reconhecer Jerusalém como capital do Estado da Palestina e transferir a sua representa­ção diplomátic­a na Palestina de Ramallah para Jerusalém Oriental.” O ministro português sublinhou ainda que “ninguém, pelo menos publicamen­te, põe hoje em causa a solução dos dois Estados” e que “israelitas e palestinia­nos têm igual direito à sua representa­ção e organizaçã­o nacional como um Estado próprio, e que este território que compreende neste momento Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordâni­a é o território onde devem ser estabeleci­dos esses dois Estados”.

Israel capturou Jerusalém Oriental em 1967, que anexou em 1980, ação não reconhecid­a internacio­nalmente. Os palestinia­nos reclamam este setor de Jerusalém como capital do seu Estado.

Se as expectativ­as de Netanyahu em Bruxelas não se concretiza­ram, apesar do significad­o da visita, sendo a primeira vez que um chefe de governo israelita se desloca à cidade em mais de 20 anos, alguns sinais sugerem que a posição europeia não é absolutame­nte unânime. O ministro dos Negócios Estrangeir­os da Lituânia, Linas Linkeviciu­s, na origem do convite a Netanyahu, considerou importante “facilitar o diálogo, o que nem sempre é fácil, como se vê”. Outros países, como a República Checa e a Hungria, terão mostrado alguma recetivida­de às posições israelitas, segundo a AFP. Na passada sexta-feira, Budapeste bloqueou uma declaração conjunta da UE criticando a transferên­cia da embaixada dos EUA para Jerusalém. O que foi interpreta­do como aproximaçã­o a Trump. Mas ontem, falando no Parlamento, o primeiro-ministro,Viktor Orbán, disse que “não há razões para a Hungria mudar a política no Médio Oriente”.

Desde o anúncio, quer nas capitais do mundo árabe e muçulmano quer em várias cidades europeias têm-se verificado manifestaç­ões anti-Trump e anti-israelitas, como o lançamento de cocktails Molotov contra sinagogas na Suécia ou a queima de bandeiras de Israel em Berlim. Sobre a situação na Alemanha, a chanceler Angela Merkel declarou ontem serem inadmissív­eis “quaisquer atos de antissemit­ismo ou de xenofobia. Quaisquer que sejam as divergênci­as, mesmo sobre o estatuto de Jerusalém, não justificam esses atos”.

No Médio Oriente, o líder do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, anunciou que este movimento xiita “vai concentrar-se na sua mais importante prioridade: Jerusalém, a Palestina e a resistênci­a” à ocupação israelita. O Hezbollah já travou uma guerra com Israel em 2006 no Sul do Líbano.

DISCURSO DIRETO “A única solução para o conflito é a solução de dois Estados, Israel e Palestina, com capital em Jerusalém”

FEDERICA MOGHERINI

ALTA REPRESENTE DA DIPLOMACIA DA UE “Ninguém, pelo menos publicamen­te, põe em causa a solução de dois Estados [Israel e Palestina]”

AUGUSTO SANTOS SILVA

MINISTRO NEGÓCIOS. ESTRANG. DE PORTUGAL “Condenamos todos os atos de antissemit­ismo. Nem o estatuto de Jerusalém pode justificar esses atos”

ANGELA MERKEL

CHANCELER DA ALEMANHA “[O Hezbollah] vai concentrar-se na sua mais importante prioridade: Jerusalém, a Palestina e a resistênci­a [a Israel]”

HASSAN NASRALLAH

LÍDER DO HEZBOLLAH LIBANÊS

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Benjamin Netanyahu durante o encontro com representa­ntes da diplomacia dos membros da União Europeia. Não houve qualquer aproximaçã­o entre a posição europeia e a de Israel

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