Diário de Notícias

Estado financiou um quarto do orçamento da Raríssimas

Alegado mau uso dos dinheiros da instituiçã­o levou à demissão da presidente. Secretário de Estado da Saúde também caiu

- JOÃO PEDRO HENRIQUES e PAULA SÁ

Foram mais de cinco milhões de euros entregues em cinco anos pela Segurança Social e a Saúde à instituiçã­o de apoio a crianças com doenças raras, cujo orçamento totaliza quatro milhões. Paula Brito e Costa arrisca-se a ser expulsa da IPSS que fundou. Especialis­ta em administra­ção hospitalar, Rosa Matos Zorrinho, especializ­ada em gestão hospitalar, já tomou posse como secretária de Estado da Saúde.

Nos últimos cinco anos, cerca de um quarto (25%) do orçamento da Raríssimas teve origem no Estado. Aos 2,7 milhões provenient­es da Segurança Social, e revelados ontem pelo Público, somam-se os números obtidos pelo DN no Ministério da Saúde: 2,3 milhões de euros. O global ascende, em cinco anos, a cinco milhões de euros – uma média de um milhão de euros por ano. Ora, sabendo-se que o orçamento da instituiçã­o para 2018 – disponível ainda no site da Raríssimas – é de quatro milhões de euros, concluise que o financiame­nto estatal foi de um quarto do que está previsto no total para o próximo ano.

No quinquénio 2012-2017, aquela instituiçã­o particular de solidaried­ade social (IPSS) recebeu da Saúde cerca de 2,35 milhões de euros. Na divisão por parcelas a maior fatia é de 879 mil euros, relativa à compartici­pação do Estado pelo facto de a Raríssimas integrar, com as suas 39 camas de internamen­to, a Rede Nacional de Cuidados Continuado­s Integrados (RNCCI).Os dados enviados ao DN indicam que desde 2008 a Raríssimas recebeu cerca de 3,36 milhões de euros do Ministério da Saúde.

O caso Raríssimas – de alegados gastos perdulário­s da fundadora da instituiçã­o, Paula Brito da Costa – provocou ontem uma baixa no governo. O secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado – consultor daquela IPSS de 2013 a 2014, com um salário mensal de três mil euros pago em parte por fundos públicos –, demitiu-se depois de ser confrontad­o numa entrevista à TVI (transmitid­a ontem à noite mas feita à hora de almoço) com questões – acompanhad­as de fotos – sobre o facto de a sua relação com Paula Brito e Costa ser mais do que profission­al – ser mesmo pessoal. Depois da entrevista, Manuel Delgado percebeu que não tinha outro remédio senão deixar o governo . Às 19.30 já tinha sido substituíd­o por Rosa Zorrinho, até agora presidente da Administra­ção Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo – e uma técnica com longa experiênci­a em administra­ção hospitalar.

A demissão de Delgado não foi a única. A presidente e fundadora da Raríssimas Paula Brito e Costa anunciou, a meio da tarde, ao Expresso que também se demitia. “A minha presença já está a afetar a instituiçã­o e tenho de sair”, disse ao semanário, ao mesmo tempo que considerou ter sido alvo de “uma cabala muito bem feita”.

Paula Brito e Cunha frisou ainda que criou uma das “maiores obras no país”. Ao Expresso, acabou considerar o ordenado que auferia de 3000 euros “justo”, já que “vinha de todo o lado. A Associação terá criado um modelo empresaria­l para “justificar o ordenado da ex-presidente, pois pelos estatutos das IPSS os seus dirigentes não podem ganhar mais do que 1685,28 euros.

Vieira da Silva sob fogo As demissões do secretário de Estado da Saúde e da presidente da associação de doenças raras não aquietaram a oposição. As baterias viraram-se todas para o ministro que tutela a área das IPSS, o da Segurança Social.

De tal maneira que o PS se antecipou e decidiu chamar Vieira da Silva – que foi vice-presidente da mesa da assembleia geral da Raríssimas entre 2013 e 2015 (quando sai para o governo) – ao Parlamento para prestar todos os esclarecim­entos aos deputados sobre as suspeitas de gestão danosa da instituiçã­o.

PSD e CDS questionar­am o conhecimen­to que Vieira da Silva tinha sobre as alegadas irregulari­dades, depois das denúncias que foram feitas ao Ministério da Segurança Social. “As perguntas do CDS são muito claras: que tipo de denúncias, em que momento foram feitas, quem delas tomou conhecimen­to e que ações foram desencadea­das a partir daí”, explicou o deputado centrista João Almeida, consideran­do que estas questões não foram respondida­s na segunda-feira pelo ministro Vieira da Silva. O PSD manifestou-se no mesmo sentido, mas não quis pedir a cabeça de Vieira da Silva. “Cabe ao próprio ministro avaliar. O PSD

Manuel Delgado demitiu-se depois de ter sido confrontad­o pela TVI com viagens feitas na companhia de Paula Brito e Costa A fundadora da Raríssimas alega que todo o caso é uma “cabala muito bem feita” para a fazer cair e voltou a defender ordenado “justo”

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