“A legislação ainda é muito grande em Portugal (...) Temos de ir mais longe”, defende João Vasconcelos, da Clearwater
Não pudemos fazê-lo com a Revolução Industrial e a máquina a vapor. Chegaram cá dezenas de anos depois. Os primeiros computadores e robôs chegaram cá nos anos 90; nesta revolução não podemos ir atrás dos outros”, defendeu João Vasconcelos. “No digital a nossa ambição devia ser sermos líderes. Neste momento somos dos melhores sítios para se ter uma empresa tecnológica digital na Europa, sem esquecer de apoiar as nossas. Não é só atrair as de fora.” Um dos problemas é que a legislação ainda é um obstáculo em Portugal. A administração pública tem essa noção, criou o Programa Simplex , por exemplo, “mas temos de ir muito, muito mais longe”, sublinhou o ex-secretário de Estado.
Para Sebastião Lancastre, “O Estado tem de simplificar e conseguir sair da frente, criar regulação para que o setor seja controlado. Mas quem tem de fazer é o privado”.
Para uma empresa vingar na área digital o que tem de acontecer de diferente? “Todos os anos há uma rapidez tal, que nos obriga a repensar o modelo de negócio de seis em seis meses”, diz Miguel Santo Amaro, o CEO da Uniplaces, uma plataforma de arrendamento online para estudantes. Por outro lado, “quando tenho outros negócios, a competência é numa escala local. A realidade é diferente”.
Também a competitividade que existe a nível do recrutamento é muito mais exigente. “Estamos a competir numa plataforma internacional, ou seja, o talento que tenho de atrair vem de Londres, Berlim, EUA e isso é uma realidade completamente diferente.”
Por outro lado, é preciso pensar de forma diferente no que diz respeito à captação de “investimentos internacionais de fundos europeus ou fundos internacionais. Nunca tinham investido em Portugal numa escala como nos últimos cinco, seis anos”, sublinha o CEO da Uniplaces.
Percebendo o potencial de crescimento deste negócio, a Uniplaces optou por não ter, para já, uma estrutura lucrativa, para poder crescer. “Percebemos que existe uma oportunidade global”, diz o CEO da Uniplaces. Há muitas startups à procura de uma posição dominante no mercado e isso implica volumes altos de investimento, sem uma fase lucrativa e é preciso crescer uma estrutura para conseguir daqui a dois ou três anos alavancar essa estrutura. Miguel Santo Amaro dá o exemplo da Jerónimo Martins, que investiu durante anos na Polónia e hoje é um player dominante nesse mercado.
João Vasconcelos, por seu lado, insiste que “no digital, a nossa ambição devia ser sermos líderes. As melhores empresas do mundo daqui a 10 anos estão neste momento a ser criadas. Gostava que fossem criadas aqui, são empresas que estão a crescer a 200% e 300% ao ano. Não vêm negociar isto ou aquele incentivo fiscal, esta ou aquela isenção”. E temos de aproveitar porque “somos dos melhores sítios para se ter uma empresa tecnológica digital na Europa”, sublinha o ex-governante.
Não é por acaso que a multinacional alemã Mercedes criou cá centenas de postos de trabalho, só para dar um exemplo”, acrescenta.
Ao atrair este tipo de empresas estamos a criar um “ecossistema”, usando a expressão de João Vasconcelos, a segunda geração de empreendedores que hoje são funcionários de startups e vão sair para formar os seus negócios, com muito mais formação e ambição, e se calhar até vão ser estrangeiros. “Foi isso que aconteceu em Berlim, em Londres e está a acontecer aqui.”