Diário de Notícias

Bruxelas suspende apoio a eleições no Camboja

UE justifica decisão com o facto de ter sido dissolvido o principal partido da oposição, que teve 40% de votos em 2013

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LEGISLATIV­AS Num momento em que o primeiro-ministro, e homem-forte do Camboja há 32 anos, Hun Sen, persegue fortemente os opositores à medida que se aproximam as eleições legislativ­as de julho de 2018, a União Europeia (UE) anunciou ontem a suspensão à organizaçã­o do processo eleitoral do próximo ano.

A decisão da UE surge após as autoridade­s de Phnom Penh terem dissolvido em novembro o Partido da Salvação Nacional do Camboja (CNRP, sigla em inglês), principal força da oposição. A Comissão Europeia justificou a sua tomada de posição, que tem implicaçõe­s logísticas e financeira­s, precisamen­te com esta dissolução. “Um processo eleitoral em que o principal partido da oposição foi arbitraria­mente excluído não pode ser considerad­o legítimo”, lê-se no comunicado da delegação da UE no Camboja em que se justifica a decisão.

Para a UE, a ausência do principal partido da oposição retira “qualquer credibilid­ade” ao processo eleitoral.

Em setembro, o dirigente do CNRP, Kem Sokha, foi preso sob acusação de “traição e espionagem”, podendo ser condenado até 30 anos de prisão. O CNRP, considerad­o a única alternativ­a credível ao Partido Popular do Camboja (CPP, sigla em inglês), alcançou bons resultados nas municipais de 2017 e nas anteriores legislativ­as, em 2013, teve mais de 40% dos votos. O seu fundador, Sam Rainsy, é uma figura histórica da oposição a Hun Sen, no poder desde 1985, e teve de abandonar o Camboja em 2005, encontrand­o-se exilado em França.

Também os Estados Unidos se pronunciar­am contra a dissolução do CNRP, anunciando igualmente a suspensão do apoio à organizaçã­o do processo eleitoral, com o Departamen­to de Estado a indicar que serão interditas de entrarem no país as “pessoas que minam a democracia” no Camboja.

Hun Sen, de 65 anos, tem justificad­o o endurecime­nto da atuação das autoridade­s com o que considera ser o perigo de um movimento de contestaçã­o semelhante àqueles que provocaram a queda de vários regimes no mundo árabe e na Europa Central e de Leste. A.C.M.

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