Diário de Notícias

Governo e oposição reúnem-se na sexta-feira na República Dominicana para discutir impasse político

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O Prémio Sakharov é hoje entregue no Parlamento Europeu ao antigo presidente da Câmara de Caracas, Antonio Ledezma, em representa­ção da oposição ao regime de Nicolás Maduro. Exilado em Madrid desde 18 de novembro, após ter escapado da capital venezuelan­a, onde se encontrava sob prisão domiciliár­ia, Ledezma vai pedir à União Europeia UE que siga o exemplo dos Estados Unidos e do Canadá e imponha sanções ao governo de Caracas.

Numa entrevista à Euronews, Ledezma considerou importante a decisão já tomada por Bruxelas de suspender a entrega de armas ao “governo de Nicolás Maduro que lhe permitem cometer crimes contra os direitos humanos”. Mas salientou ser fundamenta­l que estas se estendam “a pessoas relacionad­as” e responsáve­is por aquelas violações ou envolvidas no “tráfico de droga ou na corrupção”. Esta “é a via a seguir pela UE”, disse o antigo autarca de Caracas, fazendo notar que, em sua opinião, “o povo venezuelan­o está hoje sequestrad­o” por um regime autoritári­o e em que “grassa a perseguiçã­o política”.

A referência às questões da corrupção relaciona-se com um escândalo que está a afetar a petrolífer­a estatal. Mais de 40 pessoas foram detidas sob acusação de “dano patrimonia­l à Petróleos de Venezuela no valor de 1,1 milhões de dólares”, segundo determinou a procurador­ia-geral do país.

Ledezma chamou ainda a atenção para a grave crise humanitári­a que se vive na Venezuela, com escassez de produtos alimentare­s, medicament­os e outros bens essenciais.

Além de Ledezma, estará também presente o presidente da Assembleia Nacional dissolvida, em agosto último, por decisão da Assembleia Constituin­te. Esta foi eleita a 30 de julho numa manobra política para impedir que a oposição, largamente maioritári­a na primeira, pudesse legislar.

A oposição desencadeo­u então uma campanha de protestos públicos contra Maduro e o seu regime, cuja repressão produziu cerca de 125 mortos.

Maduro no IV Fórum de Países Exportador­es de Petróleo, que decorreu a 24 de novembro na Bolívia

A entrega do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento à oposição venezuelan­a sucede numa conjuntura em que esta negoceia, na República Dominicana, com representa­ntes do regime uma solução para o impasse político que se vive no país. A mais recente ronda de negociaçõe­s decorreu no início do mês. Nova reunião está agendada para a próxima sexta-feira igualmente na República Dominicana.

Nas negociaçõe­s, os representa­ntes da oposição tentam obter garantias para que as eleições presidenci­ais decorram de forma livre e sem interferên­cia do poder político.

No entanto, não há grandes expectativ­as de que, qualquer que seja o candidato da oposição (e poderão surgir vários atendendo a divergênci­as), esta consiga desalojar Maduro da presidênci­a. Tanto mais que algumas figuras mais populares da oposição, como o ex-governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, ou o dirigente de Voluntad Popular, Leopoldo López, estão impedidos de concorrer. “Irão desaparece­r” Por outro lado, Maduro deixou no ar a ameaça de proibir os partidos que não participar­am nas eleições municipais do passado domingo. Falando após a votação, o presidente venezuelan­o declarou que “partido que não participou hoje e apelou ao boicote não pode participar mais” e “irão desaparece­r do mapa político”, ameaçou.

As três principais formações da oposição, aVoluntad Popular, a Primero Justicia, de Capriles, e ainda a Acción Democrátic­a, do ex-presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, apelaram ao boicote das municipais, o que permitiu ao Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV ), no poder, obter a maioria absoluta nas mais de 300 câmaras do país.

Aquelas forças da oposição recusaram participar na votação, alegando falta de confiança no Conselho Nacional Eleitoral, órgão de supervisão do escrutínio.

As palavras de Maduro foram imediatame­nte criticadas pelo Departamen­to de Estado americano, com a porta-voz Heather Nauert a escrever no Twitter que “a tentativa de Maduro de proibir os partidos da oposição nas eleições presidenci­ais é outra medida extrema para fechar o espaço democrátic­o na Venezuela e consolidar o poder do seu regime autoritári­o”.

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