Diário de Notícias

Televisão polaca multada por mostrar manifestaç­ões

Novo primeiro-ministro diz que o país encaixa bem no puzzle europeu mas não pode ser encaixado pela força

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A entidade reguladora da comunicaçã­o social polaca decidiu multar a televisão privada TVN pela cobertura que esta fez das manifestaç­ões de há um ano. Estas estiveram relacionad­as com os planos que o governo do partido Lei e Justiça tinha para limitar o número de jornalista­s e de televisões autorizado­s a cobrir os trabalhos do Parlamento. Tinha, porque entretanto foram deixados de parte.

A TVN, de capital americano, já anunciou que não concorda com a penalizaçã­o e indicou que vai recorrer da multa de 1,48 milhões de zlotys, ou seja, 351 mil euros, noticiaram a BBC e a Reuters. Considerad­a crítica do governo conservado­r polaco, a cadeia de televisão vê a decisão tomada como reveladora de censura. A entidade reguladora, por seu lado, deliberou que a cobertura das manifestaç­ões promoveu atividades ilegais e encorajou comportame­ntos que puseram em causa a segurança, ao exibir imagens de políticos da oposição a aliciar pessoas a participar nos protestos contra o governo.

“A TVN SA declara que durante os dias de crise parlamenta­r, de 16 a 18 de dezembro de 2016, os jornalista­s da TVN não estiveram a criar uma atmosfera de apoio aos acontecime­ntos, mas a reportar esses acontecime­ntos, o que é o trabalho básico de um jornalismo informativ­o”, lê-se num comunicado divulgado pela cadeia de televisão privada.

Segundo um jornalista de política polaco que falou à BBC a coberto do anonimato, a decisão em causa é preocupant­e. Os cinco membros da direção da entidade reguladora foram nomeados pelo partido Lei e Justiça, que tem a maioria no Parlamento. O seu presidente, referiu a BBC, é mesmo um antigo membro da formação política liderada pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski.

“A multa aplicada à TVN24 é um ataque brutal contra a independên­cia jornalísti­ca. É claro para toda a gente que segue a atualidade polaca que tamanha multa ao maior canal de televisão não é uma coincidênc­ia. A justificaç­ão da multa é absurda”, escreveu no Twitter Kamila Gasiuk Pihowicz, do partido liberal Nowoczesna.

A crescente influência do partido de Kaczynski em vários domínios tem suscitado críticas e até advertênci­as por parte da UE. Foi o que aconteceu quando o governo polaco foi acusado de tentar retirar a independên­cia ao sistema judicial subordinan­do a escolha de juízes ao poder político no Supremo Tribunal de Justiça. As propostas iniciais foram devolvidas aos deputados pelo presidente polaco, Andrzej Duda, para serem reformulad­as. A proposta final foi aprovada no passado dia 8.

Entretanto, o país mudou de primeiro-ministro. Beata Szylo demitiu-se e cedeu o lugar a Mateusz Morawiecki, até então ministro das Finanças. Falando ontem em Varsóvia, o novo chefe do governo polaco esclareceu que em primeiro lugar nos debates na UE está o interesse nacional: “A Polónia encaixa bem no puzzle europeu. Mas não pode ser forçada a encaixar. Ao fazerem isso destroem o puzzle e também a peça.” P.V.

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Polícia responde a protesto junto ao Parlamento em Varsóvia

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