Mundo muçulmano prepara mensagem forte
Istambul recebe cimeira de países muçulmanos e quer declaração de unidade. Mas Turquia e Irão criticam outros países
“Parece que alguns países árabes se abstêm de desafiar Trump”, comentou o ministro dos Negócios Estrangeiros turco
Enviar uma “mensagem muito forte” contra o anúncio de Donald Trump em reconhecer Jerusalém como capital de Israel é objetivo da cimeira da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) que se realiza hoje em Istambul. Enquanto os líderes dos países muçulmanos tentam cerrar fileiras, as ruas da Cisjordânia continuam a ser palco de confrontos com militares israelitas. E em Gaza dois palestinianos morreram na preparação de um ataque.
Como presidente em exercício da OCI, a Turquia acolhe hoje representantes de 57 países de maioria muçulmana e vai tentar obter uma posição conjunta. A dar as boas-vindas e a encerrar a ordem de trabalhos estará o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, um dos críticos que mais se têm feito ouvir das intenções de Trump. Na segunda-feira à noite, Erdogan encontrou-se com o homólogo russoVladimir Putin. Além de se encontrarem em sintonia na questão de Jerusalém, avançaram nas negociações sobre a venda do sistema antiaéreo russo S-400. Como país integrante da NATO, e a concretizar-se a aquisição, é vista como mais um sinal de desalinhamento com os Estados Unidos.
Na cimeira da OCI espera-se a presença de mais de 20 chefes de Estado e de governo, como o presidente palestiniano Mahmoud Abbas, o rei jordano Abdullah II ou o presidente iraniano Hassan Rouhani. Cerca de 25 ministros dos Negócios Estrangeiros também devem marcar presença, incluindo os do Egito e do Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita será representada pelo ministro dos Negócios Islâmicos, Salih bin Abdulaziz al-Shaikh.
O ministro dos Negócios Estrangeiros turco lamentou o facto de alguns países árabes não terem repudiado de forma clara o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. A explicação para Mevlüt Çavussogglu é a de que o presidente dos Estados Unidos “os assusta”. “Parece que alguns países árabes se abstêm de desafiar Trump”, disse.
No entanto, o governante prometeu que uma “declaração forte” sobre Jerusalém vai sair da cimeira extraordinária da OCI. “Se não defendemos Jerusalém hoje, quando vamos defender? Se não defendemos Jerusalém, um dos três lugares mais sagrados do islão, o que defenderemos?”
A Palestina recebeu do Irão renovados apoios. O presidente Hassan Rouhani defendeu o direito à intifada como “salvaguarda dos direitos do povo palestiniano”. Já o ministro da Defesa Amir Hatami acusou, sem nomear, “alguns países muçulmanos” de cooperarem em segredo com Israel. E Qassem Soleimani, dos Guardas Revolucionários, prometeu apoio aos movimentos de resistência palestinianos.
A resistência perdeu ontem em Gaza dois elementos da Jihad Islâmica após uma detonação acidental de explosivos. Na Cisjordânia prosseguiram os confrontos entre palestinianos e militares israelitas: em Tulkarm, junto à universidade, dez estudantes ficaram feridos e em Nablus um jovem foi atingido por um tiro. De acordo com a agência palestiniana WAFA, mais de 1300 pessoas foram feridas pelas forças de segurança israelitas desde o início dos protestos contra a decisão do presidente norte-americano relativa a Jerusalém.