Quando a poeira assentar
Uma coisa é mais relevante do que tudo o mais, no caso que tem quase monopolizado as notícias nos últimos dias e que acabou ontem por resultar na saída do oitavo membro do governo de António Costa. A história da Raríssimas não pode acabar-se nos maus exemplos, nos comportamentos indizíveis, nos crimes que foram cometidos. Quer isto dizer que a justiça tem de seguir o seu curso – as investigações têm de ser céleres e sérias, os responsáveis, quero acreditar, serão responsabilizados e com tanto mais rigor quanto era à custa dos mais fracos que tiravam dividendos. Mas as crianças e as famílias a quem a Raríssimas dava algum conforto e esperança têm de ser preservadas ao máximo. Não podemos cair na tentação de as deixar escorregar na lama, de arrasar uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) que é, ela própria, muitíssimo rara no serviço que presta à sociedade.
Não é difícil antecipar que depois de correr tanta tinta, de se tornarem públicas todas as cambalhotas financeiras levadas a cabo, de serem revelados tantos esquemas, será extremamente difícil a Raríssimas encontrar quem esteja disposto a doar um cêntimo que seja para poder continuar o seu trabalho. Quem sequer acredite que há um legado de ajuda àquelas crianças. Quem não desconfie de que tudo não passou de manobras de diversão para mascarar intenções muito menos nobres. E com essa fama, como vai financiar-se para continuar a servir as crianças?
A instituição vai sofrer os efeitos das manchas deixadas por quem a fundou – isso é praticamente inevitável – e facilmente será confundida com aqueles que dela se aproveitaram para benefício próprio. O que significa que os miúdos que mais precisavam – e continuarão a precisar – e a quem foi retirado ainda mais se arriscam a perder pela medida grande.Éaq ui queé preciso todo o cuidado. Há que assegurar que quem já tem tão pouco não se veja com as mãos ainda mais cheias de nada quando toda esta história se desvendar e enfim a poeira assentar.