Um desvio tanto mais surpreendente quando é evidente que poucas vezes, se alguma, a paz e a segurança internacionais estiveram tão submetidas a uma perigosíssima violação
Tânger, de cidades livres, com tal estrutura que foram exemplo de vida civil respeitadora das diferenças, progresso sustentado, direitos humanos respeitados.
Embora a que foi chamada nova “mensagem de Assis” tenha obtido resultados importantes, designadamente em Moçambique, parece ter hoje uma atividade menos publicamente conhecida, o que não implica diminuir o seu mérito, nem que responsáveis pela ordem internacional em crise desconheçam o projeto, e confundam o seu mérito com o desconhecimento ou falha de inclusão nas meditações dos estadistas em exercício. Os doutrinadores do pacifismo têm uma herança secular no Ocidente que continua contrariamente conflituoso, mas não ocorre esquecer essa herança nem sequer aos utopistas da reforma pela luta, e menos aos que sustentam o projeto sem desanimar.
Tudo coisas que falham no discernimento e pouca informação do surpreendente governante que ordena a transferência da Embaixada dos EUA, sem pensar nos resultados mais prováveis, agindo, segundo afirma, porque não tem dúvidas de contribuir para uma resolução pacífica da situação que há gerações sacrifica a vida de gente que a viveu, desde criança até à morte, nem sempre tranquila e numa espécie de regime de prisão, de quebra da paz, de negação de futuro, num regime para o qual não contribuíram, que cabe na expressão já utilizada de parecer que “é tarde para o homem e cedo para Deus”. Não parece possível, se as notícias são exatas como parecem, pelo menos num Estado Ocidental com um passado de proeminência como os EUA na questão dos futuros ocidental e mundial, que responsáveis governamentais pela segurança mundial sejam apenas conduzidos pela satisfação de promessas eleitorais internas e avulsas sem considerar os reflexos, não apenas locais mas seguramente mundiais, desse procedimento solitário e afastado da prática prudencial de uma série de presidentes que, sem coincidência na opção ideológica, tiveram sempre presentes os “interesses da segurança mundial”.
Um desvio tanto mais surpreendente quando é evidente que poucas vezes, se alguma, a paz e a segurança internacionais estiveram tão submetidas a uma perigosíssima violação. Não é a nova mensagem de Assis que fica diminuída de significado, é a “casa comum dos homens” que recebe mais um motivo de amargas preocupações. E esta tem que ver com as responsabilidades do Conselho de Segurança da ONU, que não está impedido de reagir a tão intempestiva decisão de um vogal que, para receber a censura, não tem direito de veto.
Conta o cardeal Bergoglio (então ainda não era Papa) que num sábado à tarde lhe apareceu uma mulher pobre e chorosa pedindo ajuda para matar a fome do filho menino. O cardeal respondeu que logo na seguinte segundafeira a Cáritas trataria da ajuda. Acrescenta que a mãe corajosa lhe disse: “Padre, o meu filho tem fome hoje, não na segunda-feira.” Jerusalém não pode esperar pela “segunda-feira” do Conselho de Segurança.