GARANTE SÁBADOS PAGOS A DOBRAR E MAIS 400 PESSOAS. OPERÁRIOS VOLTAM A REJEITAR
Fábrica de Palmela impõe menos descanso nos horários para assegurar produção do T-Roc. Operários rejeitam decisão e marcam plenários. Vieira da Silva junta administração e comissão de trabalhadores na sexta-feira
A Autoeuropa vai mesmo contratar mais 400 pessoas no próximo ano para poder criar uma quarta equipa de produção. É a forma de a fábrica de Palmela poder responder à forte procura do modelo T-Roc e que levou a administração a impor um novo horário de trabalho a partir de 29 de janeiro. A decisão foi rejeitada pela comissão de trabalhadores e pelos sindicatos, que convocaram já plenários para a pró- xima semana. Vieira da Silva, o ministro do Trabalho, vai juntar à mesma mesa, na sexta-feira, trabalhadores e administração para tentar evitar o agudizar da tensão.
“De janeiro a agosto precisamos de qualificar e preparar uma quarta equipa. Vamos rapidamente dar início aos processos de vaga interna para a identificação de colaboradores necessários para as funções mais qualificadas e começar com as ações de formação necessárias”, refere a administração da Autoeuropa na nota interna enviada ontem aos trabalhadores, onde anuncia os novos horários, depois do “chumbo” de dois pré-acordos assinados com as comissões de trabalhadores. O DN/Dinheiro Vivo sabe que estas contratações vão arrancar no início do próximo ano para funções de reparação e manutenção do T-Roc.
A preparação da quarta equipa irá decorrer ao mesmo tempo que a fábrica passará a funcionar todos os sábados. Entre 29 de janeiro e até às férias de agosto, haverá dois tipos de turnos, em semanas de cinco dias de trabalho: turno da noite a funcionar de segunda a sexta-feira, com as folgas fixas ao sábado e domingo; turno da manhã e da tarde, de segunda-feira a sábado, mas com uma folga fixa ao domingo e uma folga rotativa de acordo com o calendário individual. Esta proposta de horário é semelhante à apresentada no início do ano pela empresa (ver tabela).
Ou seja, “em cada dois meses garantem-se quatro fins de semana completos e mais um período de dois dias consecutivos de folga”. Por cada sábado na fábrica, no entanto, os operários vão receber o dobro, por contar como trabalho extraordinário, mesmo com uma semana de cinco dias de trabalho. A fábrica de Palmela tem estado a laborar em alguns sábados desde o final de outubro.
Haverá ainda um “prémio adicional de 25% sobre os sábados trabalhados no trimestre, de acordo com o cumprimento do volume planeado para o trimestre” e que será pago a cada três meses.
O horário de trabalho após agosto será discutido ao longo do próximo ano. A comissão de trabalhadores rejeita a decisão e exige o regresso imediato das negociações. “Tendo em conta que, em relação ao pré-acordo recentemente rejeitado em referendo, este modelo de horário e as suas condições são mais desfavoráveis e contrariam a vontade expressa pela maioria dos trabalhadores, a comissão de trabalhadores rejeita por completo esta decisão da administração, pois entende que deverá ser retomado o processo negocial”, refere o órgão liderado por Fernando Gonçalves. Estão já marcados plenários para 20 de dezembro.
“Esta proposta é muito próxima daquela que levou à greve de 30 de agosto”, lamenta Eduardo Florindo, dirigente do SITE-Sul, afeto à CGTP, manifestando-se “completamente contra” a imposição de horário na Autoeuropa. O SITE-Sul defende a adesão voluntária do trabalho ao sábado.
Além dos 400 trabalhadores que a Autoeuropa vai contratar para o T-Roc, muitas das empresas que fornecem a fábrica vão também reforçar as equipas, adiantou Daniel Bernardino ao DN/DV. “Mas há o risco de não haver trabalhadores formados em número suficiente, o que pode pôr a segurança em causa”, avisou o coordenador das comissões de trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa.
Em 2018, prevê-se que sejam produzidos 240 mil automóveis na Autoeuropa; hoje, já saem das linhas de montagem 860 carros por dia. O T-Roc é crucial para a estratégia de vendas da VW e é o primeiro grande modelo saído de Palmela em larga escala. A Autoeuropa representa 1% do PIB nacional.