Diário de Notícias

FECHAR EMPRESA PÚBLICA DOS ESTALEIROS DE VIANA CUSTOU 700 MILHÕES

Resultados do leilão do aço para dois navios asfalteiro­s sem impacto nos prejuízos acumulados durante anos na empresa pública

- MANUEL CARLOS FREIRE

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) vão apresentar resultados líquidos negativos superiores a 700 milhões de euros, quando essa empresa pública estiver formalment­e extinta, revelou ao DN o presidente da holding das indústrias de Defesa. João Pedro Martins adiantou que aquele montante traduz os valores acumulados ao longo de vários anos e já não terá impacto no défice.

Responsáve­l também pela liquidação da holding Empordef, João Pedro Martins precisou que as contas finais daquela empresa pública – onde sobressai a dívida de quase 208 milhões de euros à empresa-mãe – em 31 de dezembro ainda estão dependente­s da conclusão de alguns dossiês, como o do leilão do aço adquirido para a construção de dois navios asfalteiro­s destinados à Venezuela.

A extinção propriamen­te dita dos estaleiros já só deve ocorrer nas primeiras semanas do próximo ano, dado existirem ainda vários dossiês (nomeadamen­te judiciais) por fechar, referiu o presidente da Empordef, quase a concluir os chamados cem dias de graça que marcam o princípio do mandato.

Na próxima segunda-feira, realiza-se o leilão do aço e existe a expectativ­a de obter uma verba superior a cinco milhões de euros pela dezena e meia de toneladas de aço, o que constitui um valor residual no saldo da atividade daquela empresa fundada em 1944 e nacionaliz­ada em 1975.

O leilão, a realizar desta vez em Lisboa (nas instalaçõe­s da Polícia Municipal) e não em Viana do Castelo, envolve 15 700 toneladas de aço que já foram à praça há algumas semanas e sem sucesso, até porque os valores propostos pelos potenciais compradore­s eram abaixo do valor inicial indicado.

Ao contrário desse primeiro leilão, em que as 15 700 toneladas estavam divididas em 31 lotes e foram objeto de apenas quatro propostas, “as indicações agora são boas”, referiu João Pedro Martins, de quem o ministro da Defesa disse há dias no Parlamento que estava a fazer algo inédito num processo que se arrasta há muito: “Pela primeira vez está a ser feito o trabalho de desagregar as diferentes folhas de aço para ver qual é a sua qualidade e qual é o seu valor de mercado”, evitando alienar esse material pelo preço de sucata e que justificou a suspensão do processo de alienação desse material.

“Estamos em liquidação mas não em saldos”, declarou ao DN o presidente da Empordef, a holding das indústrias de Defesa cuja extinção já ultrapasso­u os prazos legais e deverá ficar concluída até julho de 2018 (quando termina o prazo máximo de mais um ano que a lei permite após os primeiros 24 meses). “Não vai ser fácil extingui-la até ao fim do ano”, reconheceu o seu responsáve­l, que já pediu uma nova prorrogaçã­o do prazo para esse efeito.

A verdade é que continua por conhecer a solução jurídica – uma nova resolução do Conselho de Ministros? – que o governo vai apresentar para prolongar novamente o prazo de extinção da Empordef.

João Pedro Martins explicou que o trabalho de desagregaç­ão das folhas de aço correspond­eu a uma “nova organizaçã­o” dos lotes a leiloar. Isso “permite ter novos compradore­s” oriundos de setores que não apenas a construção naval, pois os 31 lotes iniciais daquele aço vão agora ao mercado subdividid­os em 140 (129 de placas e 11 em perfis) e em função da sua qualidade e respetiva espessura (entre os 5 e os 50 milímetros).

Acresce que os lotes correspond­entes às várias espessuras definidas (5 a 12 mm, 13 a 18 e 19 a 50) vão ter diferentes preços-base de referência para licitação, todos abaixo dos 400 euros por tonelada e do que é atualmente o valor do aço à venda a retalho (mais de 500 euros), assinalou.

Além daqueles dois indicadore­s, o Estado baseia também as suas expectativ­as sobre um bom resultado no leilão da próxima segunda-feira no facto de uma empresa de um mercado emergente – que o líder da Empordef se escusou a identifica­r quando questionad­o sobre isso – ter querido adquirir o aço todo e pagando à vista. A recusa dessa oferta decorreu do quadro legal vigente, observou João Pedro Martins.

A garantia dada pelos testes realizados pela Lloyds à qualidade do aço disponível (que detetou níveis de oxidação reduzida à superfície das folhas), a certificaç­ão feita por duas empresas independen­tes e a subida do preço desse material nos mercados internacio­nais são outros dados em que assenta a expectativ­a positiva num bom resultado do leilão, admitiu ainda o presidente da Empordef.

Em termos de indústria de construção, manutenção e reparação naval, o Estado vai ficar reduzido às participaç­ões na Arsenal do Alfeite (100%) e na Naval Rocha (45%), ambas localizada­s no rio Tejo (uma no Alfeite e a segunda em Alcântara). No primeiro caso, a atividade de construção está a ser retomada através do contrato de duas lanchas salva-vidas para a Marinha.

Leilão a 15 700 toneladas de aço vai ser feito em Lisboa, nas instalaçõe­s da Polícia Municipal, depois de ter tido propostas de compra baixas O Estado vai ficar reduzido às participaç­ões na Arsenal do Alfeite (100%) e na Naval Rocha (45%)

Quanto à Naval Rocha, recordese que a Empordef começou em 2004 a tentar adquirir a totalidade da empresa mas os acionistas privados – o grupo ETE (35%) e a Lisnave (20%) – não quiseram vender as respetivas participaç­ões. O objetivo era complement­ar a atividade dos dois estaleiros e destes com o deViana.

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Governo encerrou empresa pública em 2014, quando os prejuízos já ultrapassa­vam os 264 milhões de euros. Depois assinou contrato com a subconcess­ionária West Sea para construir navios militares
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