Diário de Notícias

Puigdemont diz que volta, mesmo arriscando prisão. Mas só se for eleito

“Os votos vão pesar mais do que as algemas”, defendeu o ex-presidente da Generalita­t, insistindo na necessidad­e de diálogo

- SUSANA SALVADOR

Tribunal de Contas ordenou o embargo da casa de Artur Mas num processo referente à consulta independen­tista de 9 de novembro de 2014

Carles Puigdemont acredita que se for eleito presidente da Generalita­t “os votos vão pesar mais do que as algemas” e que não será detido se voltar à Catalunha. Contudo, disse estar disposto a “correr o risco” de regressar e ser preso nessa ocasião. “Se respeitare­m os resultados, voltaremos”, explicou numa conferênci­a de imprensa via videoconfe­rência desde Bruxelas, para onde viajou de forma a evitar ser detido pelas autoridade­s judiciais espanholas. Em Espanha é acusado de rebelião, sedição e peculato na organizaçã­o do referendo e consequent­e declaração de independên­cia.

O cabeça-de-lista do Junts per Catalunya ( JxCat) admitiu que gos- taria de voltar à Catalunha antes das eleições autonómica­s de dia 21 deste mês “para exercer o direito de voto”, mas lembrou que isso não depende dele, já que existe uma ordem de captura em seu nome. O mesmo acontece com os outros quatro ex-membros do executivo catalão, que viajaram consigo para Bruxelas. Este “governo no exílio” reúne-se todas as terças-feiras, revelou.

Para Puigdemont, estas eleições funcionam como uma segunda volta do referendo de 1 de outubro, pelo que, se houver uma vitória independen­tista, deve ser suspensa a aplicação do artigo 155.º da Constituiç­ão. “Se há uma maioria que nos dê a sua confiança, voltarão o presidente, o vice-presidente e os consellers injustamen­te demitidos. Isso tem de ser possível e não pode haver nenhuma outra alternativ­a”, afirmou. “Não há plano B. Esse é o plano”, acrescento­u, negando qualquer discrepânc­ia com o outro principal partido independen­tista, a Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC), cujo líder e cabeça-de-lista, Oriol Junqueras, está preso.

Há sondagens para todos os gostos na Catalunha, desde as que dão a vitória à ERC como as que põem o Ciudadanos de Inés Arrimadas à frente. Nenhuma dá contudo uma maioria aos partidos independen­tistas ou aos chamados “constituci­onalistas”, podendo a Catalunya en Comú Podem (os Comuns), liderados por Xavier Domènech, ter um papel essencial. A coligação entre a Catalunya en Comú, de Ada Colau, e o Podemos é contra a aplicação do artigo 155.º e contra a declaração unilateral de independên­cia, mas a favor de um referendo acordado com o governo, pelo que, teoricamen­te, poderia pender para qualquer um dos lados.

Caso seja eleito presidente, Puigdemont insiste na necessidad­e de diálogo com o governo espanhol. Mas deixou também claro que não quer “nem um novo estatuto nem uma reforma da Constituiç­ão”, reiterando que o objetivo é ser uma república independen­te e que, se tiver a maioria, então o governo terá de o reconhecer. “Quem perder as eleições terá de se pôr ao serviço do governo legítimo da Catalunha”, avisou Puigdemont. Processos judiciais O tribunal de Barcelona que investiga a organizaçã­o do referendo de 1 de outubro pediu ao governo espanhol que, através do artigo 155.º, dê ordens às instituiçõ­es catalãs para que revelem o custo económico da consulta e indiquem de onde saiu o dinheiro para os gastos. O objetivo do tribunal, que não confia nos dados até agora fornecidos pela Generalita­t, é averiguar se o anterior executivo catalão usou fundos públicos para o referendo, confirmand­o que houve um crime de peculato.

O juiz tinha pedido informaçõe­s ao gabinete de Oriol Junqueras, ex-conseller de Economia e Finanças, sobre os custos a 30 de outubro. A resposta dos vários departamen­tos foi no sentido de negar ou dizer desconhece­r a existência de qualquer tipo de gastos para organizar o referendo. Agora, pede que sejam dadas “as ordens oportunas para a conclusão exata e atempada” do seu pedido. Concretame­nte, quer saber quem pagou as deslocaçõe­s dos vários observador­es internacio­nais convidados para a consulta, assim como quanto custou o ato inaugural e o de encerramen­to da campanha, ou, por exemplo, a publicidad­e à realização do referendo.

Noutro processo, referente à consulta de 9 de novembro de 2014, o Tribunal de Contas ordenou o embargo preventivo da casa de Artur Mas. Isto depois de o ex-presidente da Generalita­t e outros quatro antigos membros do seu executivo não terem conseguido angariar os 5,2 milhões de euros de fiança que o tribunal estipulou para cobrir os alegados gastos que saíram dos cofres públicos para pagar essa consulta – nomeadamen­te a compra de computador­es, que depois foram entregues às escolas. Só se forem condenados é que terão de pagar efetivamen­te o valor estabeleci­do, pelo que Mas poderá continuar entretanto a viver na casa de Barcelona.

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Ex-presidente da Generalita­t, em Bruxelas, participou ontem numa conferênci­a de imprensa por videoconfe­rência

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