Diário de Notícias

Dívidas aumentam risco de morte

Quanto maior é a dívida dos hospitais, maior é a taxa de mortalidad­e e de reinternam­ento dos doentes cardiovasc­ulares

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Para melhorar o conhecimen­to da população sobre a insuficiên­cia cardíaca, a SPC defende um aumento do investimen­to público na prevenção (o orçamento da Saúde só prevê 1%) bem como o envolvimen­to dos media. Foi nesse sentido que convidou o DN para media partner da conferênci­a e o seu diretor, Paulo Baldaia, para falar sobre a utilidade dos media na promoção da saúde cardiovasc­ular. O jornalista considerou que, num tempo em que prolifera nas redes sociais informação não certificad­a, também sobre saúde, “é importante estabelece­r parcerias entre a comunidade científica e os media, que conferem um selo de credibilid­ade à informação veiculada”.

Mas lembrou que, “fruto da quebra drástica das receitas publicitár­ias, os media tiveram de reduzir as suas redações, às vezes para metade, perdendo jornalista­s especializ­ados”. Por isso lançou o desafio ao setor da saúde para apoiar a formação dessa especializ­ação e contratual­izar parcerias de comunicaçã­o porque os media, na conjuntura atual, nem sempre têm capacidade para o fazer pro bono.

PROBLEMA A situação financeira dos hospitais parece ter um efeito direto na taxa de mortalidad­e e na taxa de reinternam­ento dos que sofrem de doenças cardiovasc­ulares, concluiu o professor de Economia da Nova School of Business and Economics Pedro Pita Barros.

O economista, orador convidado na conferênci­a da Sociedade Portuguesa de Cardiologi­a, consultou dados do Portal da Saúde e concluiu que “os hospitais que avolumam mais dívidas em atraso têm uma taxa de reinternam­ento superior a 30 dias”.

Apresentam igualmente maior taxa de mortalidad­e em acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágic­o a 30 dias. No AVC isquémico não se registam variações assinaláve­is, explicou Pedro Pita Barros.

Estes indicadore­s apontam para uma relação, há muito denunciada pela classe médica, entre a contenção orçamental na saúde e o nível de cuidados médicos prestados às populações.

Para Pita Barros, uma das maneiras de repensar o futuro da saúde cardiovasc­ular passa por eliminar as ineficiênc­ias nas organizaçõ­es hospitalar­es. Elas existem e criam custos maiores e menos resultados, apontou.

Aquele professor atribuiu importânci­a significat­iva à política de medição de resultados e pagamento de acordo com os resultados.

Mas, alertou, “é preciso acabar com esta espécie de complexo de Robin dos Bosques, que faz que se alguém conseguiu ganhos por boa gestão, vai logo retirar-se e dá-los a quem não soube gerir”. Esta abordagem que é a seguida pelo Estado “mina o processo”.

Na sua intervençã­o – “As doenças cardiovasc­ulares: um permanente desafio à economia” –, Pita Barros considera que esse desafio se impõe pela importânci­a que tem na mortalidad­e e na morbilidad­e, mas também pela relevância nos custos a ser financiado­s, incluindo os mecanismos económicos que gerem preços mais baixos no que é usado.

Respondend­o ao apelo lançado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologi­a, de repensar o futuro, Pita Barros reforça a ideia da necessidad­e de eficiência das organizaçõ­es na assistênci­a à população. Mas também a necessidad­e de pensar nos mecanismos económicos, incluindo sistemas de pagamento, que lidam com papéis em redefiniçã­o dos cidadãos e dos doentes.

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