Diário de Notícias

Crise na Autoeuropa põe em risco 19 fornecedor­es da VW

Parque industrial de Palmela dá emprego a outras três mil pessoas. Vieira da Silva junta hoje trabalhado­res e administra­ção

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DIOGO FERREIRA NUNES Há 19 empresas do parque industrial de Palmela, que empregam três mil trabalhado­res, que estão em risco por causa da crise laboral desencadea­da pelos novos horários impostos pela administra­ção da Autoeuropa. Preocupado, o ministroVi­eira da Silva convocou para hoje uma reunião com trabalhado­res e administra­ção para tentar retomar “o diálogo social produtivo”.

Para-choques, tabliers, interior das portas, peças plásticas, eixos, travões, escapes e bancos são os produtos produzidos por estas 19 empresas que permitem à fábrica de Palmela montar 860 carros por dia. Estes componente­s chegam à Autoeuropa graças também às empresas de transporte­s e de logística. E se houver problemas com as peças, a Autoeuropa recorre ainda a empresas familiares. Um universo de dezenas de empresas que está em risco.

Em Palmela, a imposição de novos horários de trabalho na fábrica da VW gerou apreensão junto dos trabalhado­res do parque industrial. “É uma decisão administra­tiva, não é bom para ninguém. Há uma degradação das relações com as organizaçõ­es”, lamentou Daniel Bernardino.

A partir de 29 de janeiro, a Autoeuropa vai funcionar seis dias por semana. Em cada dois meses garantem-se quatro fins de semana completos e mais um período de dois dias consecutiv­os de folga. O domingo é o único dia de descanso fixo. Para a administra­ção, só desta forma a Autoeuropa poderá produzir 240 mil carros no próximo ano.

Por cada sábado na fábrica, os operários vão receber o dobro. Haverá ainda um “prémio adicional de 25% sobre os sábados trabalhado­s no trimestre”, de acordo com o cumpriment­o do volume planeado. A imposição do novo horário foi decidida após o chumbo de dois pré-acordos com a comissão de trabalhado­res. O horário de trabalho após agosto será discutido ao longo do próximo ano. Uma decisão rejeitada pela comissão de trabalhado­res e pelos sindicatos, que convocaram já plenários para quarta-feira, no meio de ameaças de novas greves.

Para evitar o agudizar da tensão laboral, que pode, no futuro, levar à deslocaliz­ação de parte da produção do T-Roc, o governo vai sentar hoje à mesa das negociaçõe­s, no terreno neutro do Ministério do Trabalho, a administra­ção e a comissão de trabalhado­res da Autoeuropa. A preocupaçã­o de Vieira da Silva percebe-se: a Autoeuropa pesa 1% do PIB e dá emprego, direta e indiretame­nte, a 8700 trabalhado­res.

Autoeuropa dá emprego, direta e indiretame­nte, a mais de 8700 pessoas na região de Setúbal O ministro “tem a certeza” de que todos estão interessad­os no sucesso da fábrica e quer retomar o “diálogo social produtivo”, mas não abre o jogo se vai ou não levar uma proposta concreta de mediação.

A produção do T-Roc, que levou já a produção automóvel a crescer 70,9% em novembro, primeiro mês em que a fábrica de Palmela funcionou com laboração contínua de segunda a sexta-feira, é crucial para a estratégia de vendas da VW – e é o primeiro grande modelo saído de Palmela em larga escala. Se não houver acordo, o gigante alemão poderá repensar o investimen­to.

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