Diário de Notícias

Banco de Portugal e CMVM alertam para os perigos da bitcoin

A popularida­de cada vez maior das criptomoed­as, como a bitcoin, e as valorizaçõ­es expressiva­s são fontes de preocupaçã­o para os supervisor­es

- Vezes

RUI BARROSO A bitcoin está imparável e é cada vez mais procurada pelos investidor­es. Mas do lado dos supervisor­es da banca e dos mercados financeiro­s chovem avisos. O Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliário­s (CMVM) alertaram ontem para os riscos de se estar exposto a este tipo de moedas. Hélder Rosalino, administra­dor do banco central, considerou que “as moedas virtuais têm vindo a alimentar o debate público não pela sua suposta função de instrument­o de pagamento, mas sobretudo pela sua intensa atividade nas plataforma­s de negociação e especulaçã­o”.

Num discurso feito na Money Conference, organizada pelo Dinheiro Vivo e TSF, Hélder Rosalino lembrou que “esta não deixa de ser uma realidade preocupant­e, levando em consideraç­ão as evoluções (valorizaçõ­es) conhecidas nas últimas semanas, que são acompanhad­as por um aumento substancia­l de risco”. Os utilizador­es deste tipo de “moeda suportam todo o risco, uma vez que não existe um fundo para proteção dos investidor­es e utilizador­es”, alertou, defendendo que a bitcoin “não se qualifica formalment­e como moeda”, já que não representa um crédito sobre um emitente e não funciona como reserva de valor.

Horas antes dessa intervençã­o, a CMVM, através da declaração de uma fonte oficial, tinha alertado os investidor­es para estarem “especialme­nte atentos ao risco destes produtos”. Além do investimen­to direto em bitcoin, algumas corretoras portuguesa­s disponibil­izam também produtos complexos que replicam o comportame­nto daquela moeda digital, o que motivou ações de supervisão da CMVM. O regulador do mercado aconselhou os investidor­es a pedirem “informação completa sobre os produtos e especifica­mente sobre os riscos aos intermediá­rios financeiro­s”.

Estas ações dos supervisor­es, que não são responsáve­is pela moeda, não têm surgido apenas em Portugal. Hélder Rosalino constatou que “os reguladore­s e supervisor­es estão, em todas as geografias, a acompanhar este fenómeno”. Ontem, por exemplo, Janet Yellen, presidente da Reserva Federal do EUA (Fed), tinha alertado que a bitcoin “era um ativo altamente especulati­vo”.

A bitcoin é uma moeda digital que assenta na tecnologia blockchain (protocolo de confiança). As transações feitas com bitcoins têm de ser validadas pela rede de utilizador­es, que com os seus computador­es resolvem problemas matemático­s. Como recompensa ganham novas bitcoin. Esta moeda pode ser transferid­a ou efetuar pagamentos imediatos a partir de qualquer parte do mundo e garante o anonimato aos utilizador­es a um custo mínimo. Em países como o Japão, a bitcoin é já aceite como um meio de pagamento legal.

Hélder Rosalino reconhece que o conceito das moedas digitais tem “algumas vantagens potenciais”, como a facilidade e a rapidez no processame­nto das transações. Mas advertiu que apesar de todo o debate em torno das bitcoin “não devemos esquecer que o seu uso como ativo de liquidação é marginal e a sua aceitação como meio de pagamento é quase insignific­ante”.

A cotação da bitcoin tem tido um cresciment­o exponencia­l (ver gráfico), que tem levado a sucessivos alertas sobre o risco de se tratar de uma bolha. Só desde o início do ano, o preço multiplico­u-se por mais de 16 vezes. O valor de todas as bitcoin existentes é já de 227 mil milhões de dólares, superior à dimensão da economia portuguesa, por exemplo.

Apesar deste cresciment­o, Hélder Rosalino rejeitou que de momento as moedas digitais coloquem um risco para a estabilida­de financeira, já que, diz, o valor transacion­ado em moedas virtuais “são quase insignific­antes”. Desde o início do ano

o valor da bitcoin multiplico­u-se por mais

de 16 vezes

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