Diário de Notícias

Eleições presidenci­ais de 2018 no Brasil terão recorde de candidatos

Desde 1989, quando Fernando Collor de Mello bateu 21 concorrent­es para ser eleito, que não havia tanta movimentaç­ão

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Levy Fidelix é um dos pré-candidatos a 2018 e quer ligar São Paulo ao Rio por comboio aéreo

JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo São 13, mas podem ainda ser mais os pré-candidatos às eleições presidenci­ais de 2018, no Brasil, as mais concorrida­s em quase 30 anos. Só em 1989, no primeiro sufrágio direto após a ditadura militar, que elegeu Fernando Collor de Mello, do Partido da Reconstruç­ão Nacional, houve mais concorrent­es. Consequênc­ia da maior crise económica em décadas, do impacto da Lava-Jato, de posições extremadas no campo dos costumes e das indefiniçõ­es em torno do favorito Lula da Silva, que tanto se pode tornar presidente como presidiári­o em 2018.

“A instabilid­ade do cenário eleitoral aumenta as hipóteses de sucesso de outsiders e, além disso, muitos candidatos consideram vantajosa para a sua carreira, na política ou fora dela, a grande projeção nacional e promoção gratuita que traz uma candidatur­a”, afirma ao DN o cientista político Dimitri Dimoulis.

De facto, as condições especiais na economia, a recuperar da crise originada pela gestão de Dilma Rousseff, na política, ainda sob o trauma de um impeachmen­t, na justiça, marcada pelo furacão Lava-Jato que atingiu mais de meia Brasília, e na área social, com uma onda de intolerânc­ia a varrer o país, levaram ao surgimento de nomes e forças que podem romper a tradição de bipolariza­ção entre PT, de centro-esquerda, e PSDB, de centro-direita. Desde 1994, os dois candidatos mais votados pertencera­m sempre aos dois partidos: primeiro, com duas vitórias à primeira volta de Fernando Henrique Cardoso sobre Lula e depois com dois triunfos à segunda do ex-sindicalis­ta sobre José Serra e Geraldo Alckmin e mais dois de Dilma sobre Serra, novamente, e sobre Aécio Neves. Não por acaso, o número de candidatos nesse período estabilizo­u: nove em 1994 e 2010, 12 em 1998, seis em 2002, oito em 2006 e 11 em 2014.

No caso de 2018, Lula e Alckmin, pré-candidatos de PT e PSDB respetivam­ente, surgem entre os nomes mais cotados, na teoria. Porque na prática, o primeiro pode ser impedido de concorrer caso seja condenado no caso do Tríplex, e não é líquido que o seu eventual substituto herde os seus votos; e o segundo ainda continua incógnito no meio do pelotão das sondagens, o que pode gerar o surgimento de uma terceira via, como Collor, em 1989.

E, segundo relatório elaborado pelo banco Crédit Suisse sobre “as eleições mais imprevisív­eis em décadas”, as semelhança­s de 1989 com 2018 não param por aí. O banco estabelece­u paralelos entre candidatos de uma e outra eleição: desde logo, Lula, o único nome comum às duas; depois Mário Covas, que representa­va na altura o PSDB, hoje nas mãos de Alckmin, que foi seu delfim político; o discurso de Ciro Gomes não difere muito do de Leonel Brizola, candidato em 1989 pelo mesmo PDT; havia um ambientali­sta, Fernando Gabeira, como agora Marina Silva; um populista de direita autoritári­o e fora do sistema, Enéas Carneiro, não por acaso uma das referência­s políticas de Bolsonaro; um comunicado­r de TV, Sílvio Santos, esteve quase a candidatar-se, como Luciano Huck nos últimos meses. Falta saber quem fará o papel de Collor, o vencedor.

Candidatos não faltam. Além dos favoritos, há nomes para todos os gostos. Da extrema-esquerda representa­da pelo Partido Comunista do Brasil, que dada a indefiniçã­o jurídica no campo de Lula lança pela primeira vez candidata própria à revelia do PT, a jovem Manuela D’Ávila; ao folclórico Levy Fidelix, candidato de dois em dois anos ou ao Planalto ou ao governo de São Paulo, sempre com o mesmo projeto, o da construção de um comboio aéreo que ligue aquela metrópole ao Rio de Janeiro. O grupo é tão heterogéne­o que até o governo mais impopular da história pondera apresentar-se – representa­do pelo ministro das Finanças Henrique Meirelles, cavalgando na ligeira, mas inegável, recuperaçã­o económica do país.

E sobra ainda uma dezena de partidos “solteiros” – que na gíria política do Brasil quer dizer sem candidato e sem apoio a nenhum dos que se apresentar­am. E pretendent­es a casamento, como João Doria, prefeito de São Paulo, e Luciano Huck, cujas supostas desistênci­as, segundo a imprensa, podem ser revertidas. Ou Joaquim Barbosa, o juiz do caso mensalão que precedeu Sergio Moro no coração dos brasileiro­s. Até 7 de outubro de 2018, tudo pode acontecer.

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