Diário de Notícias

Simões: “Não quero ver no meu clube gente que não o prestigia”

- BRUNO PIRES

Se há uma voz autorizada no universo Benfica, essa dá pelo nome de António Simões. O antigo campeão europeu concedeu uma entrevista ao DN, na qual se mostra crítico com o plantel escolhido. Ainda acredita no penta e desconhece se o caso dos e-mails tem perturbado os jogadores. Este é um tema sensível em que o antigo magriço não poupa nas palavras. O Benfica desde 2000-2001que não ficava afastado das provas europeias, da Taça de Portugal e do comando do campeonato na altura do Natal. Tendo em conta a sua experiênci­a, como se dá a volta a esta situação? Isto só se dá a volta num todo. São todos, não há outra hipótese. Não vale a pena alguém tentar escapar porque estão todos sinalizado­s. Este é que é o grande desafio que se põe a todos quantos são capazes de ter uma relação com a responsabi­lidade. Do presidente ao roupeiro... Toda a gente que trabalha relacionad­a com o futebol e não só, porque o Benfica é um todo, não é apenas futebol. Aquilo que acontece no futebol até tem influência no estado de espírito de quem está dentro do clube. Quem é que pode ajudar mais? Sempre aqueles que jogam e quem os comanda. É sempre assim. Jogadores e treinador? Exatamente. Mudar as coisas depende de um jogo que é jogado pelos jogadores e orientado pelo treinador. O segundo aspeto tem que ver com quem manda, e aí entram os dirigentes. Não arranjem desculpas, não há argumentos que resistam, não há explicaçõe­s que se consigam. Houve erros que se cometeram. Está a falar de que erros? Da forma como se ajuizou ou como não se antecipou. Toda a gente sabia que havia jogadores que iam sair, havia que ser mais rigoroso e atento naqueles que entrariam. E eu hoje posso dizer que quem entrou tem menos qualidade do que os que saíram. A partir daqui há um erro de cálculo. Das duas uma: ou há um erro técnico-profission­al, de visão, ou há um erro de deslumbram­ento. O importante é refletir e pensar no que fazer. Este é o desafio para quem tem de tomar decisões. E este é o momento. Agora não há espaço para não se tomar decisões e muito menos para se voltar a errar. Que tipo de decisões têm de ser tomadas? De quem vem, de quem não vem. Todas as pessoas que tiveram e têm influência na construção do plantel, todos os departamen­tos... até aqui falava-se muito do fantástico scouting, do fantástico Seixal. Então e agora? Não se diz que o scouting falhou? Quem mandou vir o Douglas? Quem mandou vir esse Gabriel? Quem tomou a decisão? Toca de assumir os erros e não voltar a repeti-los. Fala-se muito bem do scouting quando as coisas correm bem e depois é como se o scouting não existisse quando as coisas correm mal. Também se refere ao treinador? O treinador de qualquer clube tem a obrigação de recolher opiniões. Treinador e presidente têm de decidir, mas as decisões não se tomam só com as opiniões destas duas pessoas. Se forem tomadas agora boas decisões, o Benfica está a tempo de ser pentacampe­ão? Sem dúvida, esse é o grande desafio que se põe porque esta é a oportunida­de que sobra, o mercado de janeiro. Não simpatizo muito porque é um mercado de segunda mão, é a mesma coisa que comprarmos um carro usado. É um mercado de sobras. E digo uma coisa, se é para irem buscar jogadores sem qualidade, não o façam para dar a sensação de que estão a satisfazer alguém. Não façam isso, não tragam mais jogadores sem qualidade, porque isso já o fizeram. Quando rebentou o caso dos e-mails, teve, na BTV, uma intervençã­o muito crítica para o interior do próprio Benfica. Esta polémica pode estar a perturbar a equipa de futebol? Essa é uma grande questão, não sei qual é o sentimento de quem trabalha no clube. Mas há uma coisa que eu lhe garanto: a mim perturbou-me e continua a perturbar. Não estou muito interessad­o em saber se perturba quem lá está, estou é seguro de que a mim me perturbou e espero que outros tenham o mesmo sentimento. Porque se não se sentem perturbado­s... bom, então quase que desconfio do sentimento que tenho. Ninguém tem de ser igual a mim, mas obviamente que não é uma situação agradável. Não venham dizer que toda a gente não vê, não ouve, e os jogadores a mesma coisa. Respondend­o à pergunta, não sei se perturba, a mim perturbou e admito que tenha perturbado os outros. Já que fez referência a isso, eu falei na altura própria e nunca mais voltei a falar do assunto porque digo as coisas que acho que devo dizer, não tenho de me andar a repetir para convencer de que tenho razão. Prefiro muito mais ser um homem feliz. E o Benfica ganhar faz-me também um homem feliz, mas não só, porque há muito mais coisas na vida além do Benfica. Digo isto por convicção, porque me desanima, porque me desaponta, assistir a esta história toda dos e-mails. Entristece-me sobretudo ver gente continuar a ter o estatuto de representa­tividade do clube a quem eu sou completame­nte alérgico. Às vezes até me dá vontade de dizer um disparate, que pode nem ser um disparate. O Benfica anda à procura de um lateral direito, ponham o Pedro Guerra a jogar. Porque não o põem a lateral direito? Pelo menos por ali ninguém passava, não havia espaço. Tenho vontade de dizer estas coisas. Parece que há reféns disto tudo que está a acontecer e, portanto, ninguém quer tomar decisões. Subentendo que se fosse o António Simões a decidir havia pessoas que já não estavam no clube... Claro. Não quero ver dentro do meu clube gente que não o prestigia. E tenho legitimida­de para o dizer. Não estou a correr com ninguém, façam o que quiserem. Não gosto é de ver essas pessoas no meu clube e tenho o direito de o dizer. Alguma vez transmitiu essa sua ideia de viva voz a Luís FilipeViei­ra? Eu não dei ideias nenhumas ao senhor presidente, tive oportunida­de em duas ocasiões de expressar o meu desagrado e desapontam­ento por haver pessoas a representa­r o clube com as quais eu não me revejo. Fi-lo uma vez publicamen­te e vou continuar a dizê-lo quando for necessário, quando eu entender. Eu é que escolho quando é que digo. E também já o disse pessoalmen­te ao senhor presidente e é o senhor presidente que tem legitimida­de para tomar decisões. Não exijo que ele as tome, porque não tenho esse direito, mas tenho o direito a dizer aquilo de que eu não gosto.

“Parece que há reféns disto tudo [caso dos e-mails] que está a acontecer e ninguém quer tomar decisões” “Ponham o Pedro Guerra a jogar. Porque não o põem a lateral direito? Pelo menos por ali ninguém passava” “Até aqui falava-se muito do fantástico scouting . E agora não se diz que o scouting falhou? Quem mandou vir o Douglas? E esse Gabriel?”

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