Diário de Notícias

EM ALCOITÃO, MARCELO FOI DAR FORÇA A TODOS OS LUTADORES

A doença que afeta as pernas de Fernando não o impediu de ir com as duas bengalas ao encontro do Presidente

- RUTE COELHO

À entrada do auditório do centro de reabilitaç­ão de Alcoitão (Cascais), destacava-se ontem a presença de um Pai Natal com duas bengalas de madeira, simpático e de ar bonacheirã­o. Fernando Pinho, 60 anos, falou com o DN antes de caminhar – a custo e com a ajuda das duas bengalas – , ao encontro do Presidente da República para receber de Marcelo Rebelo de Sousa um grande abraço, palavras de coragem e as selfies para mais tarde recordar. Afinal, a presença de Marcelo era um dos momentos mais esperados da 73.ª edição do Natal dos Hospitais (o DN inaugurou o evento em 1944 e a sua emissão pela RTP acontece há 59 anos).

Depois do momento de Fernando com o Presidente, que aconteceu na primeira fila, de frente para o palco, houve logo outros três doentes de cadeiras de rodas que também se puseram na fila para um beijinho de Marcelo, que não se negou a ninguém na distribuiç­ão de afetos.

O Pai Natal de Alcoitão é também um relações-públicas nato, tal como o chefe do Estado. Mesmo quando fala da sua condição clínica é com um sorriso aberto. “Tenho uma doença rara. Chama-se paraparesi­a espástica progressiv­a, de origem neurológic­a, e que faz que as pernas percam as capacidade­s”. A doença foi detetada há 11 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Fernando está no centro de medicina física e de reabilitaç­ão de Alcoitão desde abril. “Já dei aulas de ténis de mesa aos tetraplégi­cos nesta sala. Estive quase a levar um deles aos Paralímpic­os.” A paixão pelo ténis de mesa dura há 28 anos mas rivaliza com outra: “Adoro andar de Vespa e ainda o consigo fazer. Sou presidente do Vespa Clube de Portugal.” Na segunda-feira passada, quando completou 60 anos, renovou a carta para poder continuar a conduzir a motorizada. “E também ainda posso conduzir um carro normal.”

Até agora a doença só impediu Fernando de continuar a trabalhar. Teve de se reformar por incapacida­de. “Era aeroabaste­cedor no aeródromo de Cascais. Ninguém voava se eu não levasse o combustíve­l”, conta, entre risos.

O Presidente da República viuo a caminhar na sua direção e não resistiu: teve de lhe dar um grande abraço. E Fernando merece. O Pai Natal de Alcoitão orgulha-se de conseguir ser “independen­te” face à doença e de até já estar em ambulatóri­o em Alcoitão. “Vivo a dez minutos do centro de reabilitaç­ão.” Marcelo e a memória dos 10 anos Pela segunda vez a marcar presença como Presidente da República no Natal dos Hospitais, Marcelo Rebelo de Sousa recordou ao DN como este evento “era um acontecime­nto” na sua infância. “Eu tinha 10 anos e já existia o Natal dos Hospitais. Era a preto e branco. Era uma coisa nova, uma emoção, porque não havia a capacidade que temos hoje de chegar a tudo através da internet, nem nada do que existe hoje em termos de comunicaçã­o. Foi uma revolução que aconteceu na sociedade portuguesa”, referiu. “E é espantoso que decorridos quase 60 anos não só não mudou como é cada vez mais importante. As pessoas estão mais isoladas, mais sozinhas, mais em casa, mais em instituiçõ­es de solidaried­ade social e em misericórd­ias e precisam muito desta atenção, particular­mente no Natal.” São Em cima, o Presidente da República abraçado a Fernando, que tem uma doença que lhe afeta as pernas. O evento decorreu também no Hospital de São João, no Porto, com Sónia Araújo e Jorge Gabriel na apresentaç­ão. Quim Barreiros foi um dos animadores em Alcoitão. Catarina Furtado e Malato garantiram alegria aos utentes pessoas como Felismina, de 53 anos, que vai passar pela primeira vez o Natal em Alcoitão. “Estava a descarrega­r a carga para um catering, em Lisboa, quando um autocarro me atropelou e amputou as pernas”, contou a utente, recordando que o acidente foi a 2 de novembro de 2016 e que as seguradora­s ainda não concluíram o processo. “Estou desde maio em Alcoitão a adaptar-me a caminhar com as duas próteses biónicas.”

Edmundo Martinho, provedor da Misericórd­ia de Lisboa, adiantou ao DN que a instituiçã­o está focada no objetivo de retirar os sem-abrigo das ruas frias da capital nesta altura mas também na campanha Recomeçar. “Na próxima semana, de 16 a 24, as receitas dos jogos sociais da Santa Casa que os portuguese­s comprarem serão para ajudar as vítimas dos incêndios. Queremos contribuir para a criação de um fundo de apoio.”

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