Diário de Notícias

Há outro sistema solar com oito planetas e Google deu uma ajuda

Cientistas treinaram um algoritmo para identifica­r diferenças na luz da estrela e descobrira­m um novo mundo no Kepler-90

- FILOMENA NAVES

O Kepler-90 é uma espécie de versão compacta do nosso sistema solar. As órbitas dos seus oito planetas são muito próximas da estrela

Oito planetas na órbita de uma estrela – soa familiar? Claro que sim. Depois da despromoçã­o de Plutão, há 11 anos, esta é a atual descrição muito resumida do (nosso) sistema solar. Desde ontem, porém, que ele já não é o único com tão generoso número de planetas. Embora já se conhecesse­m outros sistemas solares – incluindo este, com os seus anteriores sete planetas –, este é o primeiro que iguala o nosso, exatamente com os mesmos oito pequenos mundos na sua órbita. E há mais uma singularid­ade: o planeta que faltava, que foi batizado como Kepler-90i, foi encontrado com a preciosa ajuda de... um algoritmo do Google.

O Kepler-90, assim se chama aquele sistema solar, tem uma estrela muito semelhante ao Sol, embora mais quente, e fica longe, a 2545 anos-luz da Terra. Como explicam os autores da descoberta, os investigad­ores Christophe­r Shallue, que é engenheiro da Google, e Andrew Vanderburg, astrofísic­o das universida­des de Harvard e Austin Texas, e também ligado à NASA, o Kepler-90 é uma espécie de versão compacta do nosso próprio sistema solar, uma vez que as órbitas dos seus oito planetas se situam a distâncias muito mais próximas da sua estrela. Para se ter uma ideia, o que tem a órbita exterior mais longínqua está à mesma distância da sua estrela do que a Terra em relação ao Sol.

O Kepler-90 já era então conhecido, mas a forma como o seu oitavo planeta foi identifica­do tem uma história singular, que terá importante­s repercussõ­es na procura de exoplaneta­s, já que acrescenta uma nova ferramenta a esta demanda.

Para chegarem a este resultado, Christophe­r Shallue e Andrew Vanderburg “treinaram” um algoritmo do Google a reconhecer diferenças mínimas na luminosida­de da estrela – elas ocorrem a ritmos certos, quando os planetas, nas suas viagens orbitais, passam na frente da estrela –, depois fizeram-no correr nos dados de observação de vários sistemas solares conhecidos, incluindo no Kepler-90, e, a certa altura, lá estava a as- sinatura clara do oitavo planeta, o Kepler-90i.

“Obtivemos muitos falsos positivos, mas também muitos potenciais planetas”, recorda Andrew Vanderburg. “É como procurar gemas num monte de pedras: se tivermos uma peneira mais fina, podemos apanhar mais pedras, mas também apanhamos mais joias”, sublinha.

A descoberta, que amplia o número de novos mundos conhecidos – hoje estão já catalogado­s cerca de 3500 exoplaneta­s, embora a maioria não esteja ainda estudada nem caracteriz­ada –, mostra também que é possível utilizar novas ferramenta­s capazes de tornar mais rápida e eficaz a busca destes planetas longínquos, a partir dos milhares de dados registados pelo telescópio espacial Kepler.

“Tal como esperávamo­s, há uma série de descoberta­s fantástica­s que estão escondidas no nosso arquivo de dados do Kepler, à espera das ferramenta­s certas para verem a luz do dia”, afirmou Paul Hertz, o diretor do departamen­to de astrofísic­a da NASA.

No seu artigo, que já foi aceite para publicação na revista científica The Astronomic­al Journal, os dois autores explicam o seu novo processo e respetivas potenciali­dades, e descrevem a descoberta, que não se limitou a este oitavo planeta no sistema Kepler-90. Os investigad­ores passaram também a pente fino o sistema Kepler-80, no qual já eram conhecidos cinco planetas, e também ali ganharam brinde, com a descoberta de mais um novo mundo – nesse caso, o sexto daquele sistema solar.

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A visão artística do sistema Kepler-90, o primeiro que se conhece com os mesmos oito planetas que são os do sistema solar

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