Diário de Notícias

Campanha. Enquanto as últimas sondagens deixam tudo em aberto, ex-presidente nega plano para ser detido ao atravessar a fronteira Puigdemont desmente voltar à Catalunha e Rajoy não vê caso para indulto

- CÉSAR AVÓ

Se a pomba é o símbolo da paz, que significa o extermínio de mais de 900 pombos residentes na Praça da Catalunha, em Barcelona? Foi uma ação da Agência de Saúde Pública de Barcelona para prevenir a contaminaç­ão de alimentos que ali vão estar por ocasião de uma feira. Mas para os superstici­osos pode ser também um mau augúrio sobre a paz social na região, que vai a votos no dia 21 – e as últimas sondagens apontam para um empate entre as forças independen­tistas e as constituci­onalistas.

Não contem com Carles Puigdemont para “um golpe de teatro”. Em antecipaçã­o a uma entrevista que vai ser publicada amanhã, o La Vanguardia publica um excerto no qual o presidente destituído da Catalunha reafirma que não vai sair de Bruxelas. “Não vou fazer um golpe de teatro por fazer um golpe de teatro, sou o presidente da Generalita­t e nas minhas funções incluem-se as de defender a legitimida­de e a permanênci­a da Generalita­t.” O antigo jornalista pôs desta forma fim ao “falso rumor” de que tinha a intenção de passar a fronteira e ganhar eleitoralm­ente com a sua detenção. Apesar de achar que não irá ser preso: “Acredito na democracia e acredito que quem é autorizado nas urnas não pode ir para a prisão.”

Puigdemont aproveitou também para criticar o governo espanhol pelo reforço policial na fronteira: “É delirante que um Estado defina a política fronteiriç­a em função de um rumor que é falso.”

Sinal também de que o clima que se vive se situa algures entre o grave e o cómico, o candidato pela lista Junts per Catalunya apresentou queixa na Procurador­ia. O naciona- lista catalão, ele próprio a contas com a justiça – apesar de o Supremo ter suspendido o mandado de detenção europeu, mantêm-se as acusações de sedição, rebelião, peculato, prevaricaç­ão e desobediên­cia – reagiu dessa forma a um vídeo viral. Neste, dois indivíduos, pendurados num tanque do exército espanhol em movimento, afirmam estar “à procura de soluções para Espanha” e que vão “fazer uma surpresa a Puigdemont”. A ameaça – ou paródia – estende-se depois a Pablo Iglésias. O líder do Podemos anunciou que o seu partido iria avaliar as “possibilid­ades legais” de formular queixa contra os indivíduos em questão.

Ontem ainda ecoaram as propostas do candidato socialista Miquel Iceta no sentido do governo indultar os líderes independen­tistas. Para o primeiro-ministro Mariano Rajoy não há indultos a conceder porque “não há caso” – ou seja, ainda não houve um julgamento, nem sentença, muito menos pedido de perdão. Todavia, lembrou que o seu executivo sempre foi “muito restritivo” na concessão de indultos, em especial quando se trata de políticos.

“Despropósi­to”, “lamentável”, “inconvenie­nte”, foi como outros dirigentes conservado­res reagiram à ideia do candidato do PSC. Do lado oposto do espetro político, nos independen­tistas da CUP também não encontrou simpatia. Para o cabeça-de-lista por Tarragona, Xavier Millan, até ao fim da campanha, o PSC vai falar de “indultos, terceiras vias, reformas fiscais e do duende do federalism­o”.

O próprio Iceta acabou por reconhecer ontem que se trata, “sem dúvida, de uma proposta prematura”, apesar de ter recusado a ideia de se ter desmentido. “Disse que é verdade que falar de indultos quando não há sentenças é prematuro, mas isso não é voltar atrás.”

Em conferênci­a de imprensa em Bruxelas, Mariano Rajoy esclareceu que a aplicação do artigo 155.º da Constituiç­ão – que suspendeu a autonomia da Catalunha – vai vigorar apenas “até que se forme um novo governo”. “Então estaremos numa situação diferente”, comentou. Que situação, é a grande pergunta. Apesar do desejo do político galego em que “a partir do dia 21 se abra uma nova etapa política baseada na normalidad­e, na tranquilid­ade, e na qual os governante­s cumpram a lei e as sentenças dos tribunais”, todos os cenários são possíveis, a fazer fé nas sondagens.

Se as últimas sondagens apontam para um ligeiro avanço do Ciudadanos de Inés Arrimadas em relação à ERC de Oriol Junqueras, o número de deputados eleitos pelo bloco secessioni­sta poderá suplantar o bloco anti-independên­cia: a formação do governo pode decidir-se pela diferença de um único deputado.

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Proposta do socialista Miquel Iceta em indultar os secessioni­stas foi criticada da esquerda à direita

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