Como Portugal tenta entrar no mapa dos desportos de inverno
Federação investe em território nacional e no estrangeiro para captar atletas e melhorar condições. Serra da Estrela é o único palco para realizar competições de esqui e snowboard
inverno está aí à porta e os Jogos Olímpicos da estação arrancam na cidade sul-coreana de PyeongChang a 9 de fevereiro. Portugal não é um país de grandes tradições nas modalidades desportivas invernais, mas já apurou dois atletas para o certame, na sequência de um trabalho realizado dentro e fora do país.
“Temos vindo a fazer um trabalho de base que sustente o futuro. Criámos projetos que fomentassem o esqui e o snowboard, para que aparecessem mais atletas. E criámos contactos com as comunidades portuguesas no estrangeiro no sentido de angariar mais atletas”, explicou ao DN o presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP) e chefe da missão portuguesa nos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, Pedro Farromba, fazendo um retrato do panorama nacional dos desportos de inverno.
“Tivemos dois atletas radicados em França e na Suíça nos Jogos de Sochi, em 2014 [Arthur Hanse e Camille Dias, ambos de esqui alpino]. Depois da competição, em abril desse ano, apresentámos o projeto de preparação olímpica para os Jogos de 2018. Reunimos uma equipa de dez atletas de quatro modalidades, temos dois já qualificados e temos possibilidade de qualificar outros dois”, acrescentou, referindo-se aos já apurados Arthur Hanse e Ke Quyen Lam. O primeiro, um luso-francês que vai brilhando no esqui alpino. O segundo, um luso-macaense que vai dando cartas no esqui cross country. Realidade comparada ao futebol Contudo, dos dez atletas que integram o programa olímpico nacional, apenas três residem em Portugal. “Este ano tivemos dois atletas residentes em Portugal que chegaram a finais”, afirmou o líder federativo, que não vê qualquer constrangimento nessa situação. “É como a seleção nacional de futebol, que tem a maioria dos jogadores a atuar no estrangeiro”, atirou.
Ainda assim, desengane-se quem pensa que não há investimento em desportos de inverno no território português. “Fazemos vários eventos ligados ao esqui e snowboard, e estamos a tratar de desenvolver curling, hóquei no gelo e luge em Portugal e em regiões onde haja portugueses”, desvendou.
No último ano, por exemplo, realizaram-se dez provas – deverão ser 12 ou 14 em 2018 –, quatro de esqui alpino (campeonatos nacionais masculinos e femininos nas disciplinas de slalom e gigante e torneio universitário), quatro de snowboard (campeonatos nacionais masculinos nas disciplinas de slopestyle e boardercross e feminino na de slopestyle e torneio universitário), todos na estância de esO qui da serra da Estrela, e uma de esqui em pista sintética (taça nacional), no Skipark de Manteigas, também na zona do Parque Natural da Serra da Estrela. “Já realizámos duas provas internacionais em Portugal e temos conseguido afirmar as modalidades”, aditou o líder da entidade sediada na Covilhã. “Não falta nada. Falta neve” A concentração de todas as provas naquela zona do país deve-se ao facto de aí se situar “a única estância de esqui em Portugal”. “Estamos em desvantagem. Os atletas precisam de 200 dias de neve por ano e em Portugal isso não existe. Temos de levar os nossos atletas lá fora para treinar, e os que estão no estrangeiro já têm acesso a outras condições”, lamentou Pedro Farromba, satisfeito com as infraestruturas existentes em território nacional. “Não falta nada. Falta neve”, brincou.
Com mais de 700 atletas federados, os objetivos da FDIP passam por “afirmar cada vez mais as modalidades existentes e desenvolver outras novas”. Se para PyeongChang 2018 ainda não se pode falar em reais expectativas no que concerne a resultados, tendo em conta o nível dos desportos de inverno e que o período de qualificações ainda não terminou, já existe uma meta traçada para os Jogos de Pequim, em 2022. “Gostava muito de levar um residente em Portugal”, vincou o presidente, no cargo desde 2009.