Diário de Notícias

O Presidente dos afetos e do bom senso

- PAULO BALDAIA

Acapacidad­e de Portugal pagar a sua dívida não é hoje muito diferente do que era há um ano, nem há dois, nem sequer melhor do que em 2011 quando a crise das dívidas soberanas nos obrigou a pedir socorro a uma troika mal-amada. O que mudou foi a perceção de quem nos empresta dinheiro para ir fazendo a dívida circular e, por arrasto, que não ao contrário, das agências de rating.

Desta vez foi a Fitch a melhorar a nossa cotação, a permitir que a burocracia de alguns fundos, dependente­s de notas para abrirem os cordões à bolsa, possa ser ultrapassa­da e invistam em Portugal. O dinheiro poderá, por isso, ficar um pouquinho mais barato. Mas nada que se faça sentir por aí além, porque barato, demasiado barato, anda o dinheiro que continuam a emprestar a países sobre-endividado­s como Portugal.

Por sorte temos Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República, que é rei a distribuir afetos e imperador a apelar ao bom senso. Temos de estar satisfeito­s porque ultrapassá­mos mais uma etapa com sucesso? Claro que sim. Satisfeito­s e orgulhosos porque o que dá muito trabalho traz compensaçã­o. Mas, como diz o nosso Chefe do Estado: “Não nos deslumbrem­os com milagres porque não há milagres.”

Foi devagar que nos metemos num poço sem fundo e foi devagar que de lá saímos. Devagar e com sacrifício­s brutais para uma grande parte da população portuguesa. A euforia pelo dever cumprido não pode dar azo à insensatez. Não é hora de começar a pensar em gastar o que vamos ter de pedir. O orgulho de termos as agências de rating a olhar para nós com respeito tem de manter-se. E só poderemos continuar a sentir-nos orgulhosos se agora, que o serviço de dívida custa menos pela descida dos juros, formos capazes de começar a diminuir significat­ivamente a dívida bruta e a dívida líquida.

O esforço vai ter de continuar, “o milagre deu muito trabalho e vai dar muito trabalho no próximo ano, no ano seguinte...”, lembrou Marcelo. Pelo valor da nossa dívida, dá para perceber que é trabalho para várias gerações.

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